quinta-feira, 11 de outubro de 2012

ESTUDO DO MITO

Há mais de meio século, estudiosos começaram a explorar o mito sob uma perspectiva diferente da até então em voga . Ao invés interpretá-lo na acepção usual do termo, como “fábula”, “ïnvenção”, “ficção”, eles o aceitaram tal qual era compreendido pelas sociedades arcaicas, onde o mito designa uma “história verdadeira” e preciosa por seu caráter sagrado.
O importante aqui é estudar as sociedades onde o mito é ou foi vivo, no sentido em que fornece os modelos para a conduta humana, conferindo significação e valor à existência.
Esses cultos proféticos proclamam a iminência de uma era fabulosa de abundância e beatitude.
Todas as grandes religiões mediterrâneas e asiáticas possuem mitologias. Apesar das modificações sofridas no decorrer dos tempos, os mitos dos primitivos ainda refletem um estado primordial.
O mito é uma realidade cultural extremamente complexa que pode ser interpretado através de perspectivas múltiplas. Ele conta uma história sagrada, relata acontecimentos ocorridos no tempo primordial, o tempo fabuloso do “principio”; narra como (graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais) uma realidade passou a existir, seja uma realidade total – o Cosmo, ou apenas um fragmento, é sempre a narrativa de uma criação  (relata de que modo algo foi produzido e começou a ser). Os mitos descrevem as várias erupções do sagrado no mundo.
A principal função do mito consiste em revelar modelos exemplares de todos os ritos e atividades humanas significativas.
Embora os protagonistas dos mitos sejam geralmente deuses e Entes Sobrenaturais, enquanto os dos contos são heróis ou animais miraculosos, todos esses personagens têm uma característica em comum: não pertencem ao mundo cotidiano.
Os mitos narram não apenas a origem do Mundo, dos animais, das plantas e do homem, mas também todos os acontecimentos primordiais em conseqüência dos quais o homem se converteu no que é hoje.
Se o Mundo existe, se o homem existe, é porque os Entes Sobrenaturais desenvolveram uma atitude criadora no “princípio”. Após a cosmogonia e a criação do homem, ocorreram outros eventos que determinaram o homem tal qual é hoje e isto, é o resultado daqueles eventos míticos.
O homem é mortal porque algo aconteceu no início dos tempos; se esse algo não tivesse acontecido ele não o seria – teria continuado a existir indefinitivamente, como as pedras; ou poderia mudar periodicamente de pele, como as serpentes, sendo capaz de renovar sua vida.
Para o homem arcaico o mito é uma questão da mais alta importância, lhe ensina as “histórias” que o constituíam e tudo o que se relaciona com sua existência e com seu modo de existir no Cosmo.
Assim como o homem moderno se considera constituído pela história, o homem arcaico se considera um certo número de eventos míticos.
Conhecer os mitos é aprender como as coisas vieram à existência, onde encontrá-las e como fazer para que reapareçam quando desaparecem. Entender a origem de um objeto animal ou planta, equivale a adquirir sobre eles um poder mágico, graças ao qual é possível dominá-los, multiplicá-los ou reproduzi-los. Todavia, não basta conhecer o mito da origem, é preciso recitá-lo; recitando ou celebrando esse mito o indivíduo deixa-se impregnar pela atmosfera sagrada.
O Tempo mítico é um Tempo “forte” porque foi transfigurado pela presença ativa e criadora dos Entes Sobrenaturais. Ao “viver” os mitos, sai-se do Tempo profano, cronológico, ingressando num Tempo “sagrado”, primordial; viver os mitos implica uma experiência verdadeiramente religiosa.
Nas civilizações primitivas o mito desempenha uma função indispensável: ele exprime e enaltece a crença, garante a eficácia do ritual e oferece regras práticas para a orientação do homem.
O mito, é um ingrediente vital da civilização humana, longe de ser uma fábula vã, ele é uma realidade viva.
Toda história mítica pressupõe e prolonga a cosmogonia. Os mitos de origem contam como o Mundo foi modificado enriquecido ou empobrecido.
Para as sociedades arcaicas, a vida não pode ser reparada mais somente recriada mediante um retorno às raízes, esse retorno oferece a esperança de um renascimento.
A cosmogonia é o modelo exemplar para todos os tipos de atos: Não só porque o Cosmo é o arquétipo ideal de toda situação criadora, mas também porque o Cosmo é uma obra divina. Sendo assim, tudo que se assemelha ao Cosmo é sagrado.
Várias tribos acreditam no fim do mundo e em seu renascimento. Na Grécia, observamos duas tradições míticas distintas: a teoria da idade do Ouro, compreendendo o mito de perfeição dos primórdios; e a doutrina cíclica.
A primeira, a Idade do Ouro, sobre o reinado de Cronos, foi uma espécie de Paraíso, os homens tinham vida longa, jamais envelheciam e sua existência assemelhava-se à dos deuses. A teoria cíclica, aparece com Heráclito, e irá influenciar a Teoria do Eterno Retorno.
Outros fenômenos são significativos neste contexto como por exemplo, o desenvolvimento artístico. Desde o início do séc. as artes plásticas, a literatura e a música passaram por transformações tão radicais que se tornou impossível não falar de uma “destruição da linguagem artística”, ao contemplar algumas obras recentes têm–se a impressão de que o artista quis fazer “pouco caso” da pintura. Mais que uma destruição, é uma regressão ao Caos, a uma espécie de massa confusa primordial, percebe-se que o artista está à procura de algo que ainda não exprimiu;  ele precisa reduzir a nada as ruínas acumuladas pelas revoluções plásticas, precisa chegar a uma modalidade germinal da matéria, a fim de recomeçar a história da arte a partir do zero. Em muitos dos artistas modernos, sente-se que a destruição da linguagem plástica nada mais é senão a primeira fase de um processo complexo e que  a ela deverá seguir à criação de um novo Universo.
Na arte moderna, o niilismo dos primeiros revolucionário representa atitudes ultrapassadas, hoje, os artistas não acreditam na degradação e desaparecimento de sua arte. Desse ponto de vista, sua atitude assemelha-se à dos primitivos: eles contribuíram para a destruição do Universo artístico deles a fim de recriar um outro.
Este fenômeno cultural é de grande importância pois são os artistas que representam a verdadeira força criadora de uma civilização.
A destruição das linguagens artísticas coincidiu com o surgimento da psicanálise, a psicologia profunda valorizou o interesse pelas origens, fato este que, tão bem caracteriza o homem das sociedades arcaicas.
Os artistas modernos, longe de serem os neuróticos de que algumas vezes se fala, são ao contrário, psiquicamente mais sãos do que muitos homens modernos, eles compreenderam que um verdadeiro reinício não pode ter lugar senão após um verdadeiro fim. Então, os artistas se puseram a destruir seu Mundo a fim de recriar um Universo artístico no qual o homem possa sonhar...
O desejo de conhecer a origem das coisas não é exclusivamente arcaico. Nos séculos XVII/XIX, multiplicaram-se as pesquisas sobre as origens do Universo,da vida, das espécies e do homem.
No séc. XX por sua vez, o estudo dos primórdios tomou um rumo diferente, para a psicanálise por ex., o verdadeiro primordial é o “primordial humano”, isto é, a primeira infância. A criança vive num tempo mítico, paradisíaco (eis a razão porque o inconsciente apresenta a estrutura de uma mitologia privada).
Pode-se ir mais longe ainda e afirmar não somente que o inconsciente é mitológico, mas também que alguns de seus conteúdos estão carregados de valores cósmicos, pode-se ainda afirmar que, o único contato do homem moderno com a sacralidade cósmica é efetuado pelo inconsciente.
A psicanálise elaborou técnicas que são capazes de identificar os “primórdios” da história pessoal do homem. De todas as ciências, somente a psicanálise chegou à idéia de que o “começo” de todo ser humano é beatífico;  a beatitude da origem é um tema bastante freqüente nas sociedades arcaicas.
O “voltar atrás”, cuja importância para a compreensão do homem e, sobretudo para sua cura, foi percebido por Freud e já era praticado em culturas antigas. O retorno individual à origem é concebido como uma possibilidade de renovar e regenerar a existência daquele que a empreende, esse retorno prepara para um novo nascimento, todavia, este não repete o primeiro, trata-se de um renascimento místico, de ordem espiritual (o acesso a um novo modo de existência).
Em várias civilizações se acreditava que a saúde e a juventude eram conseguidas através deste retorno, único meio que o pensamento arcaico considerava eficaz para anular a obra do Tempo. Tratava-se de abolir o Tempo transcorrido, de recomeçar a existência com todas as suas virtualidades intactas.
 
 TENTATIVA DE DESMISTIFICAÇÃO:
 A “desmistificação” da religião grega e o triunfo com Sócrates e Platão da filosofia rigorosa e sistemática não aboliram definitivamente o pensamento mítico. Platão ainda adere ao modo de pensamento arcaico e na cosmogonia de Aristóteles ainda sobrevivem vário temas mitológicos.
O gênio grego foi incapaz de exorcizar por seus próprios meios o pensamento mítico, mesmo que o último dos deuses fosse destronado e seus mitos relegados ao nível de contos infantis. Isso porque, de um lado, o gênio filosófico grego aceitava o essencial do pensamento mítico, o eterno retorno das coisas,e porque o espírito grego não julgava que a história pudesse tornar-se objeto de conhecimento.
Foi somente devido à descoberta da história, à assimilação radical desse novo modo de ser no Mundo que o mito pôde ser ultrapassado. Porém, o pensamento mítico não foi de todo abolido, ele conseguiu sobreviver, embora modificado e/ou camuflado.E, o mais surpreendente é que, mais que em qualquer parte, ele sobreviveu na historiografia.
 
MITOLOGIA DA MEMÓRIA:
O esquecimento equivale ao “sono”, mas também à perda de si mesmo, à cegueira.
A libertação pode ser comparada ao “despertar”, à tomada de consciência de uma situação que existia desde o princípio, mas que não fora percebida.
A deusa Mnemósine, personificação da memória, irmã de Cronos e dos Oceanos é a mãe das Musas. Ela é onisciente, sabe tudo o que foi, tudo o que é, tudo o que será; quando o poeta é possuído pelas Musas, ele sorve diretamente da ciência de Mnemósine, isto é, do conhecimento das “origens”.
As musas cantam o aparecimento do Mundo, a gênese dos deuses, o nascimento da humanidade. O passado assim revelado é mais que antecedente do presente, é a sua fonte. Ao remontar a ele, a rememoração procura não situar os eventos num quadro temporal, mais atingir as profundezas do ser, descobrir o original, a realidade primordial da qual proveio o Cosmo, e que permite compreender o devir em sua totalidade.
O poeta, inspirado pelas Musas tem acesso à realidades originais; essas realidades manifestaram-se nos Tempos Míticos e constituem o fundamento deste Mundo. Mas, por terem aparecido nas origens, essas realidades não são mais perceptíveis na experiência corrente.
Pitágoras, Empédocles e outros acreditavam na Metempsicose e afirmavam poderem se recordar de suas vidas passadas.
Para Platão aprender é rememorar. A Teoria das Idéias platônica podem ser comparadas ao comportamento do homem nas sociedades arcaicas e tradicionais; o homem dessas sociedades encontra nos mitos os modelos exemplares de todos os seus atos, os mitos lhe asseguram que tudo o que ele fez ou pretende fazer, já foi feito no princípio. Ignorar ou esquecer o conteúdo dessa “memória coletiva” constituída pela tradição equivale à uma regressão ao estado “natural”.
Platão acredita que, viver inteligentemente, ou seja, aprender o verdadeiro, o belo, o bom, é  um antes de tudo, recordar-se de uma experiência puramente espiritual. O “esquecimento”dessa condição é uma conseqüência do processo de reencarnação. Ao voltar a vida terrestre a alma “esquece” as idéias.
Também para Jung, o “inconsciente coletivo” precede a psique individual. O mundo dos arquétipos de Jung assemelha-se até certo ponto ao mundo platônico das Idéias: os arquétipos são transpessoais e não e não participam do Tempo da espécie e mesmo da vida orgânica.
Durante milênios, o homem trabalhou ritualmente e pensou miticamente nas analogias entre o macrocosmo e o microcosmo. Era uma das possibilidades de se “abrir” para o Mundo e de participar da sacralidade do Cosmo. Desde a Renascença, quando se provou que o Universo era infinito, essa dimensão cósmica que o homem acrescenta ritualmente à sua existência nos é negada. Seria normal que o homem moderno caído sobre o domínio do Tempo e observado por sua própria historicidade, procure abrir-se para o Mundo, adquirindo uma nova dimensão nas profundezas temporais.
Desde a antiguidade, o homem se consolava do terror da história, lendo os historiadores de épocas passadas.
Nos  níveis arcaicos da cultura, a religião mantém a “abertura” para um Mundo sobre-humano. Esses valores são transcendentes tendo sido revelados pelos “ancestrais Míticos”.
Esses modelos são vinculados pelos mitos, aos quais compete principalmente despertar e manter a consciência de um outro mundo (o além mundo divino).
É através da experiência do sagrado, do encontro com uma realidade transumana, que nasce a idéia de que algo existe realmente, de que existem valores absolutos, capazes de guiar o homem e de conferir uma significação à existência humana.     É, portanto, através da experiência do sagrado que despontam as idéias de realidade, verdade e significação.
Esse mundo transcende dos deuses, dos heróis e dos ancestrais míticos e é acessível porque o homem arcaico não aceita a irreversibilidade do Tempo. O ritual abole o Tempo profano, e recupera o Tempo sagrado do mito.
O homem das sociedades arcaicas parece repetir o gesto arquétipo. O mito garante a ele que o que ele se prepara para fazer já foi feito e ajuda-o a eliminar as dúvidas que poderia conceber quanto ao resultado de seu empreendimento.
O Mundo “fala” ao homem e, para compreender essa linguagem, basta compreender os mitos e decifrar os símbolos. Através dos objetos deste Mundo, percebe-se os trajes dos Entes e os poderes de um outro Mundo.
Apesar de saber que é um ser humano e de se aceitar como tal, o homem arcaico sabe que é “algo mais”.  Direta ou indiretamente o mito eleva o homem.
 
MITOLOGIA E INSPIRAÇÃO:
 
 
Outro fator de grande importância no estudo do mito é o papel desempenhado por indivíduos criadores.
Pode-se adivinhar quais são as “fontes de inspiração” de uma tal personalidade criadora dentro de uma sociedade arcaica: as “crises”, os “encontros”, as “revelações”, isto é, as experiências religiosas privilegiadas.
É uma criatividade no plano da imaginação religiosa que renova a matéria mitológica tradicional.
Os diferentes especialistas do sagrado, desde os xamãs até os bardos, conseguiram impor ao menos algumas de suas visões às respectivas coletividades.
As experiências religiosas privilegiadas, quando comunicadas através de um enredo fantástico, conseguem impor a toda a comunidade modelos e fontes de inspiração. Tanto nas sociedades arcaicas, como em toda as outras, a cultura se renova graças às experiências criadoras de alguns indivíduos.
O mito ajuda o homem à ultrapassar seus próprios limites e incita-o à elevar-se para onde estão os maiores.
 
CAMUFLAGEM DOS MITOS:
Os primeiros teólogos cristãos tomaram o mito com “fábula”, “ficção”, “mentira”, recusaram-se a ver na pessoa de Jesus uma figura mítica. Todavia os evangelhos estão carregados de elementos mitológicos, além do mais, as figuras e  os rituais de origem judaica e mediterrânea foram assimilados pelo cristianismo.
Um outro problema se impõe quando se estuda as relações entre o pensamento mítico e o cristianismo. Se os cristãos se recusaram a ver em sua religião o mito, qual é a situação do cristianismo face ao mito vivente? Sendo assim, o cristianismo não pode ser dissociado do pensamento mítico.
Os teólogos cristãos negavam que os evangelhos fossem mitos ou histórias maravilhosas. A vida de Jesus era a realização das profecias do Antigo Testamento.
Orígenes reconhece que os Evangelhos apresentam episódios que não são historicamente autênticos embora sejam verdadeiros ao plano espiritual.
Ao proclamar a Encarnação, Ressurreição e Ascensão do Verbo, os cristãos estavam convictos de não apresentarem um novo mito. Porém, eles estavam se utilizando um novo mito.
Embora representado na história, esse drama possibilitou a salvação e existe apenas um meio de obter a salvação: repetir ritualmente o drama e imitar o modelo supremo revelado pela vida e ensinamento de Jesus. Esse comportamento religioso faz parte do pensamento mítico autêntico.
Pelo fato de ser uma religião, o cristianismo teve que conservar ao menos um comportamento mítico: o tempo litúrgico, a recuperação periódica do “princípio”. A experiência religiosa do cristão baseia-se na imitação de Cristo como modelo exemplar.
A imitação de um modelo transumano, a ruptura do tempo, constitui as notas essências do homem das sociedades arcaicas, que encontra no mito a própria fonte de sua existência. * (M. ELIADE, Mythes, rêves et mysteres, pgs 26-27)
Desde o início, o cristianismo sofreu influências múltiplas e contraditórias, sobretudo as do gnosticismo, judaísmo e paganismo.
Os padres da igreja cristianizaram os símbolos, os ritos e os mitos, relacionando-os à uma história sacra.
As verdadeiras dificuldades surgiram quando os missionários cristãos defrontaram-se com  as religiões populares. Eles cristianizaram as Figuras Divinas e os mitos “pagãos”, deuses e heróis, matadores de dragões, transformaram-se em São Jorge;deuses da tempestade foram convertidos em São Elias; as inúmeras deusas da fertilidade foram assemelhadas à Virgem Maria.
Sendo assim,embora camufladamente, os mitos continuaram existindo, mesmo em sociedades e religiões onde foram tão criticados.
 
MITOLOGIA E MODERNIDADE:
Alguns “comportamentos míticos” inda sobrevivem sobre nossos olhos. Não que se trate de “sobrevivência” da mentalidade arcaica mas alguns aspectos e funções do pensamento mítico são constituintes do ser humano.
Pesquisas recentes trouxeram à luz as estruturas míticas das imagens  e comportamentos impostos às coletividades. Este fenômeno é constatado especialmente nos Estados Unidos, onde os personagens das histórias em quadrinhos apresentam a versão moderna dos heróis mitológicos.
Um personagem fantástico, O Superman, tornou-se extremamente popular graças à sua dupla identidade: oriundo de um planeta destruído por uma catástrofe, e dotado de poderes prodigiosos, ele vive na Terra sob a aparência modesta de um jornalista. Essa camuflagem de um herói cujos poderes são literalmente ilimitados, revive um tema mítico bastante conhecido.
O mito do Superman satisfaz às nostalgias secretas do homem moderno que, sabendo-se decaído e limitado, sonha revelar-se um dia um “herói”.
Comportamentos míticos poderiam ser reconhecidos na obsessão do sucesso, tão característica da sociedade moderna, que traduz o desejo de transcender à condição humana; onde se pode notar a nostalgia da “perfeição primordial”.
Observa-se também algo que poderia se chamar de os mitos da elite, os que se cristalizam em torno da criação artística e de sua repercussão cultural e social. Esses mitos conseguiram se impor muito além dos círculos fechados dos iniciados, graças ao complexo de inferioridade do público e dos círculos artísticos.
O mito do artista maldito, que se observou no séc. XIX, está ultrapassado. Hoje, pede-se que ele se molde à sua imagem mítica, que seja estranho, e que produza algo de novo.
“Tudo é permitido! Pela primeira vez na história da Arte não existe mais tensão entre artistas, críticos, colecionadores e o público”.
Todas as experiências autênticas da Arte Moderna refletem certos aspectos de crise espiritual. As elites encontram na extravagância das obras modernas a possibilidade de uma gnose iniciatória. É um “novo mundo” que está sendo reconstruído a partir das ruínas e de enigmas.
Tudo leva a crer que  a redução dos  “Universos Artísticos” ao estado primordial da matéria prima é apenas uma fase de um processo mais complexo; como nas concepções cíclicas das sociedades arcaicas o “Caos” é seguido por uma nova criação, equiparável a uma cosmogonia.
Os traços deste comportamento mitológicos revelam-se no desejo de reencontrar a intensidade com que se viveu ou conheceu, uma coisa pela primeira vez, de recuperar a época beatífica do “princípio”.
“É  sempre a mesma luta contra o Tempo, a mesma esperança de se libertar do peso do “Tempo Morto”, do Tempo que destrói e mata.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  ESTILO E ESSENCIA Estilo pode incluir moda, design, formato, ou aparência, incluindo por exemplo: Estilos reais e nobres Em botâ...