terça-feira, 24 de julho de 2012

alcance do ESTADO DE GRAÇA - por Clarice Lispector






 Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (LISPECTOR, Clarice - 1973)
 Neste livro, a autora descreve a relação que a personagem Lóri estabelece com a divindade alcançando um  “estado de graça”, assim como da compreensão que esta elabora a respeito do que foi vivido, para
depois desenvolver uma reflexão sobre as imagens envolvidas nesse movimento de descrever e compreender a graça.
Sem entrar na problematização do que seja de fato "estar pronto", importa aqui, pontuar os fatos que antecedem o momento em que Lóri vive o estado de graça.
Pois bem, a entrada de Lóri no estado de graça se dá a partir de um fato trivial do dia-a-dia – como, aliás, acontece com tantas personagens de Clarice que, a partir de algo simples do cotidiano, têm profundas experiências que poderíamos chamar de estéticas, filosóficas, existenciais ou religiosas, de acordo com seu contexto próprio.
Lóri vê uma maçã sobre a mesa, se põe a contemplá-la, toma-a nas mãos, dá-lhe uma mordida (LISPECTOR, 1980, p.146).
A mordida, então, parece ser a senha que a coloca em uma vivência inteiramente nova, ou seja, é por um ato de incorporação que tem início o que ela chamará de estado de graça. E, oh Deus, como se fosse a maçã proibida do paraíso, mas que ela agora já conhecesse o bem, e não só o mal como antes.
Ao contrário de Eva, ao morder a maçã entrava no paraíso.  Só deu uma mordida e depositou a maçã na mesa - porque alguma coisa desconhecida estava suavemente acontecendo. A maçã tem duplo movimento, como uma porta, que permite a passagem para dentro ou para fora.
 Se a maçã do Gênesis é o que leva à queda, a maçã de Lóri a leva ao paraíso, a maçã que se encontra naturalmente colocada na fruteira; é simples objeto do mundo. É no mundo, portanto, que se dá a graça de Lóri, a condição e a verdade é vivenciada por ela, quando diz que a graça é um estado em que “sem esforço, sabe-se”, como um conhecimento a que se chega sem o intercurso direto da razão. Graça e fé seriam então duas faces do mesmo símbolo que em seu todo seria a condição da verdade, assim como da felicidade. A maçã é o símbolo cristão inequívoco da entrada na condição humana, que é a condição limitada. O paraíso perdido/desconhecido passa a ser, para Lóri, o paraíso de alguma maneira alcançado pela graça.
No contexto da descrição da vivência de Lóri é possível pensar que o próprio ato de denominar o que foi vivido como o estado de graça é um sinal da liberdade. Lóri denominou a experiência pela qual passou como graça; o que viveu não tinha nome, era uma pura experiência de prazer corporal e felicidade em estar no mundo. Mas ela o denomina graça, e o faz em liberdade. O que se ganha, através da experiência da fé e da graça, é o mundo, e não, um outro mundo ao qual só teríamos acesso em um além da morte. Nas palavras de Clarice, o que Lóri vivenciou “era como se o anjo da vida viesse anunciar-lhe o mundo”.
O mundo que Lóri ganhava – outra vez – era agora um mundo aberto ao amor. Sente que não poderia viver permanentemente na graça porque assim se desligaria do mundo e da compaixão pelo sofrimento humano.
O que está em jogo aqui é o difícil problema da liberdade em face da fé.
Se há Deus, o que resta de liberdade ao homem


Era o começo – de um estado de graça (LISPECTOR, 1980, p.146). A partir desse momento, Lóri sente uma espécie de “bem-aventurança física que a nada se comparava”, e tem a experiência direta da “dádiva de existir materialmente”.
Não era porém, algo semelhante à inspiração do artista, pois o estado de graça não servia para nada, não produzia nada, pelo menos não diretamente. Era uma felicidade que se confundia com prazer e lucidez, era a vivência comum de uma pessoa comum, que de repente tinha a chance de entrar em relação direta com o que a cercava.
No estado de graça, via-se a profunda beleza, antes inatingível. Tudo, aliás, ganhava uma espécie de nimbo que não era imaginário: vinha do esplendor da irradiação quase matemática das coisas e das pessoas.
Passava-se a sentir que tudo o que existe – pessoa ou coisa respirava e exalava uma espécie de finíssimo resplendor de energia. Esta energia é a maior verdade do mundo e é impalpável (LISPECTOR, 1980, p. 147).
Era também uma experiência indizível e incomunicável – mas Clarice não se furta a tentar comunicá-la. E, por fim, a saída deste estado foi tão leve quanto tinha sido a entrada nele.
Depois de ter saído, não adiantava desejar voltar, pois a graça só vinha espontaneamente.
Lóri reflete sobre o que tinha vivenciado, considera que o Deus estava certo ao não conceder a graça frequentemente e nem por muito tempo, pois assim, correr-se-ia o risco de não mais voltar para a experiência comum, perdendo a possibilidade do amor e da compaixão pela humanidade (LISPECTOR, 1980, p. 149).
A vivência da graça é também entendida por Lóri como algo que parecia redimir a condição humana, embora ao mesmo tempo ficassem acentuados os limites desta condição. Porque depois da graça a condição humana se revelava na sua pobreza implorante, aprendia-se a amar mais, a esperar mais. Passava-se a ter uma espécie de confiança no sofrimento e em seus caminhos tantas vezes intoleráveis (LISPECTOR, 1980, p. 150).
Portanto, depois do rompimento dos limites da condição humana, o que se  tem é um retorno a estes limites, com maiores possibilidades de amor, compaixão, paciência.
A experiência da graça é tida por ela como incomunicável, como assemelhada ao silêncio da experiência mística que acompanha toda a tradição cristã, e provavelmente todas as tradições em que a experiência religiosa individual é valorizada.
 Se o paradoxo não pode ser penetrado pela razão, pode ainda ser apontado, ilustrado e descrito, mesmo que isso causa escândalo.
compreensão da experiência da graça vivida pela personagem, torna-se um importante momento epifânico no conjunto do romance: momento em que a vivência do eterno – ou daquilo que escapa à temporalidade – invade o cotidiano de forma inequívoca.
O estado de graça vivido por Lóri, é o de uma pessoa comum, sendo portanto, acessível a todos: Que a graça é dada por Deus, é uma condição a que não se tem acesso por si só; que ao aceitar a graça move-se na liberdade e o que se obtém após a graça é o mundo, mas agora um mundo amado. A idéia é que a graça, é algo acessível a todos e se dá na vida comum. A partir do que poderia ser um fato trivial do dia a dia – a mordida na maçã –inicia-se  experiência?
 Alceu Amoroso Lima responde a Clarice, em entrevista a ela concedida, a respeito desta questão: “A grandeza do homem está precisamente em ser o único animal que tem o dom de negar a Deus. E, portanto, o mérito de o reconhecer livremente”. Pela fé, ganha-se o mundo outra vez. A fé, sendo o movimento absurdo que se revela pela aceitação de um sentido que está fora do alcance humano, permite que o que está dentro dos limites humanos seja vivido de forma plena. Desta forma, mesmo colocado diante da graça, cabe ao homem um movimento dentro da liberdade para que a graça de fato se realize. Não é possível provocar o estado de graça, mas também não é possível fruí-lo sem consentir em seu movimento. Traz em seu movimento uma renúncia e um desejo – aceita-se perder o mundo ainda desejado, e ao aceitar a perda, pode-se tê-lo de volta. Porque a fé é um entregar-se à vontade de Deus, com a confiança em seu amor. Sobre isso nos fala Johannes de Silentio: “... pois o movimento da fé deve ser continuamente efetuado em virtude do absurdo, mas, por favor perceba, de modo a que não se perca o finito, mas que este seja ganho inteiro e intacto." A fé, efetua um movimento circular que retorna ao ponto de onde partiu: aceita-se perder o mundo finito, mas ao final do movimento é este mesmo mundo que é obtido de volta. O mundo obtido de volta, entretanto, é possuído de modo novo, através da instauração de uma nova relação entre o homem e o mundo, “porque aquele que possui o mundo inteiro como se não o possuísse tem o mundo todo – de outra forma é possuído pelo mundo” (KIEKEGAARD)
Se a experiência de Lóri pode ser compreendida como um transitório rompimento dos limites humanos, na medida em que é “uma pequena abertura para o mundo que era uma espécie de paraíso”, é um rompimento que, ao ter fim, devolve aquele que o viveu ao mundo ordinário, porém, com mais possibilidades de amar, esperar e ter compaixão, pois “exatamente porque depois da graça a condição humana se revelava na sua pobreza implorante, aprendia-se a amar mais, a esperar mais”.
 É uma vivência de rompimento de limites que faz aumentar a consciência destes mesmos limites.
No relato do estado de graça vivido por Lóri, penso que não é descabido considerar que ela esteve, ao longo da experiência, movendo-se na fé, pois acreditou que o que vivia era a graça e que esta era um dom do Deus.
Após a experiência, estava pronta. Arriscando-se a perder o mundo, pois permanecer na graça seria perder a “linguagem comum", que a unia à humanidade, ganhou-o. Desejando permanecer na graça, aceitou voltar; caída então outra vez na condição humana, pôde vivê-la de outro modo: estava renascida!











 


















GRAÇA, é meu nome!










Meu nome é Maximina Judith Rodrigues Graça, mais conhecida como: NINA GRAÇA! Tal fato, estimulou-me a pesquisar a palavra e me levou a perceber que, é isso exatamente que busco, atingir tal estado. Este por sua vez, já está contido na minha pessoa (literalmente e simbolicamente rs), esperando para ser desperto!
O tão almejado ESTADO DE GRAÇA!


 O que é graça?
 O vocábulo Graça provém do latim gratia, que deriva de gratus (grato, agradecido) e que em sua primeira acepção, designa a qualidade ou conjunto de qualidades que fazem agradável a pessoa que as têm.
Graça é um conceito teológico fortemente enraizado no judaísmo e no cristianismo, definido como um dom gratuito e sobrenatural dado por Deus para conceder à humanidade todos os bens necessários à sua existência e à sua salvação.
Esta dádiva é motivada unicamente pela misericórdia e amor de Deus à humanidade, logo, movida por Sua iniciativa própria, ainda que seja em resposta a algum pedido a Ele dirigido.
Segundo a Igreja Católica, a graça é um dom universal e "socorro gratuito que Deus nos dá" para sermos "capazes de agir por amor d’Ele", para satisfazermos as nossas justas necessidades espirituais ou materiais e também para tornar-nos filhos de Deus e "participantes da natureza divina, da Vida Eterna" . Aliás, "a própria preparação do homem para acolher" livremente a graça divina "já é obra da graça" e da predestinação (não-absoluta) de Deus.
 Existem vários tipos de graça, como por exemplo:
- a graça habitual ou santificante (considerada também a graça primeira): é a origem, o início e a responsável pela justificação, conversão e santificação dos homens e por isso "nos foi merecida pela paixão de Cristo e nos foi dada no batismo". Por outras palavras, é o princípio e a estrutura da vida sobrenatural, que nos faz participantes da natureza divina, templos do Espírito Santo, filhos adoptivos de Deus, irmãos de Jesus Cristo, justos e agradáveis a Deus e capazes de merecer sobrenaturalmente e de penetrar na intimidade do próprio Deus. Com esta graça, são concedidas ao Homem as capacidades de operar sobrenaturalmente, a saber: as virtudes infusas ou sobrenaturais e os dons do Espírito Santo.
 O exercício, impulsionado pelas graças actuais, faz parte dos principais meios de santificação. O progresso neste exercício leva aos frutos do Espírito Santo e às bem-aventuranças. A graça santificante perde-se pelo pecado mortal, mas não pelo pecado venial ou pelas penas temporais devidas ao pecado.
- as graças actuais: são "dons circunstanciais" atribuídos especialmente ao Espírito Santo ou "intervenções divinas na vida do homem", para que ele possa continuar a acolher e colaborar com a graça e prosseguir o seu caminho de santificação. A graça actual leva o pecador à conversão e a pessoa em estado de graça à procura e ao exercício dos meios de santificação. Esta graça pode ser “eficiente” se uma vez acolhida produz o seu efeito, mas é “suficiente” quando, recusada ou não aproveitada, fica sem produzir efeito.
- as graças sacramentais: são dons que o cristão recebe por meio dos sete sacramentos da Igreja e que pode ajudá-lo "a colaborar na salvação dos outros homens.
- as graças especiais ou carismas: são concedidos especialmente pelo Espírito Santo para servir "o bem comum da Igreja", sendo exemplos disso o dom de línguas e "as graças de estado.
Uma pessoa que está em Estado de Graça vive na amizade e amor de Deus e, se nela morrer, vai para o Céu, pela graça santificante. Por outras palavras, é aquele que não está manchado pelo pecado mortal mas.
A Igreja Católica defende que a justificação (acção misericordiosa e gratuita de Deus de conceder a salvação à humanidade), e, portanto, também a graça, podem ser recusados livremente pelo Homem porque "Deus age de forma livre, concedendo a graça, e a resposta do homem também deve ser livre, pois «a alma só pode entrar livremente na comunhão do amor. Por isso, pode-se dizer que "a concretização da salvação de cada pessoa depende também da sua adesão de fé e caridade ao Salvador", estabelecendo-se assim uma colaboração indissociável entre a graça e o livre-arbítrio do Homem de escolher entre a redenção e a perdição. Daí o facto de existirem pessoas que, depois de morrerrem, vão para o Inferno, em vez de alcançarem a plena santidade, que é o desejo e a vontade de Deus para todo o género humano.

  ESTILO E ESSENCIA Estilo pode incluir moda, design, formato, ou aparência, incluindo por exemplo: Estilos reais e nobres Em botâ...