sábado, 19 de outubro de 2013

 
OS LIVROS E O EU DIVINO
As possibilidades de nos mantermos abertos à experiência do sagrado dependem dos modos de ser que nos foram proporcionados na relação pré-verbal, quando crianças. Depende da  espontaneidade da relação corporal mãe-filho, classicamente manifestada no brincar.
Um dos maiores fenômenos da evolução da vida é, sem dúvidas, a transformação que passa a INTELIGÊNCIA INFANTIL - o senso íntimo das crianças...Esses PEQUENINOS TIRANOS da nossa existência, essas flores que perfumam os nossos lares e que são, ora a AFLIÇÃO, ora o CONSOLO, o ENCANTO e a ALEGRIA de nosso viver.
É maravilhoso contemplar a alma que se desenvolve, a INTELIGÊNCIA QUE JÁ PROCURA TIRAR UMA DEDUÇÃO OU CRISTALIZAR UM RACIOCÍNIO.
O pensamento de crisálida, tem a doçura e a suavidade de uma flor em eclosão e lembra o pássaro ensaiando com as tímidas asas o primeiro vôo; nessa época, para a criança, é TUDO UM MISTÉRIO. Ao passo que, para o homem que chegou ao "APOGEU DE SUA EXISTÊNCIA POSITIVA", os fenômenos se passam físicos e sociais, COMO SIMPLES FATOS de cujas causas finais ou primordiais, ele NÃO QUER SABER E DISPENSA INVESTIGAR... Inversamente a isso, para o ESPÍRITO DA CRIANÇA, tudo o que passa lhes impressiona os sentidos é uma NOVIDADE, um acontecimento inédito, nunca imaginado. Essa CURIOSIDADE INFANTIL as induz a tudo perguntar, a tudo querer saber com o intuito de se assenhorarem dos porques de tudo.
Verden-Zoller faz o seguinte comentário a respeito da capacidade humana para brincar: ”O bebê humano encontra a mãe nas brincadeiras, antes de começar a falar. A mãe humana, contudo, pode encontrar o bebê na não-brincadeira, pois já está na linguagem quando começam as conversações que constituirão seu filho." Se encontra o filho na brincadeira, isto é, em uma relação biológica congruente de aceitação total de sua corporeidade, a criança é vista como tal e sua biologia é confirmada, no fluxo do crescimento corporal e da transformação.


Se a mãe humana não brinca com a criança, seja por causa de suas expectativas, desejos, esperanças, aspirações, falta de tempo ou o que quer que seja, a biologia da criança é negada ou não confirmada e o crescimento dele é reduzido e a criança incapacitada, em vez de uma normal...
Quando a mãe encontra a criança na brincadeira – “em uma relação biológica de total aceitação de sua corporeidade” – a criança passa a ser vista como tal, isto  significa que foi confirmada, admitida, reconhecida na integridade e na justiça de sua biologia, desenvolvimento e crescimento, como SER HUMANO.
 
CENÁRIO ATUAL:


O problema é que a IGNORÂNCIA SE TORNOU MAIS INTERESSANTE, especialmente a grande e fascinante ignorância acerca de assuntos enormes e importantes como a MATÉRIA e a CRIAÇÃO.


As pessoas pararam de construir  PACIENTEMENTE SUAS CASINHAS RACIONAIS NO CAOS DO UNIVERSO E COMEÇARAM A SE INTERESSAR PELO CAOS EM SI – em parte, porque era muito mais fácil ser especialista no Caos, mas PRINCIPALMENTE porque ele propicia várias estampas para colocar na camiseta. Saíram por aí dizendo que  era IMPOSSÍVEL SABER ALGUMA COISA, diziam que não havia NADA pra se chamar de REALIDADE entretanto, sabiam que isso era extremamente empolgante. 
Desconfia-se  que exista um monte de PEQUENOS UNIVERSOS POR TODA PARTE imperceptíveis à nossa LIMITADA VISÃO,  uma vez que, encontram-se curvados dentro de si; sendo assim, uma tartaruga grande com um Mundo nas costas se torna algo praticamente ordinário; ao menos ela não finge que não existe, e ninguém no DISCO jamais tentou provar que ela não existia, e se estivesse certo, ela seria vista no espaço vazio de repente.
 
 O DISCO EXISTE BEM À BEIRA DA REALIDADE: As coisas sem importância podem atravessar para o outro lado! Portanto, NO DISCO, as pessoas levam as coisas a sério! -  COMO AS HISTÓRIAS....
Histórias são importantes, as pessoas pensam que dão forma às histórias mas, na verdade, é o contrário: AS HISTÓRIAS EXISTEM, APESAR DE SEUS PARTICIPANTES, se você sabe disso, esse conhecimento é PODERRRR....

HISTÓRIASSSS:São grandes fitas vibrantes de espaço tempo, MODELANDO, AGITANDO-SE e DESENROLANDO-SE pelo Universo desde o início dos tempos... E evoluíram – as mais fracas morreram e as mais fortes sobreviveram, Históriass ondulando e agitando-se na escuridão! Sua simples existência forma uma camada tênue, porém impactante, sobre o Caos que é a história... AS HISTÓRIAS DEIXAM SULCOS PROFUNDOS E MARCANTES para que os indivíduos os sigam, da mesma maneira que água segue certos caminhos nas encostas das montanhas, QUANDO NOVOS ATORES CAMINHAM PELO TRAJETO DA HISTÓRIA, O SULCO FICA MAIS PROFUNDO. Isso quer dizer que, a História, uma vez iniciada, ADQUIRE FORMA e capta as vibrações de todas as suas outras versões já contadas. POR ISSO A HISTÓRIA CONTINUA SE REPETINDO O TEMPO TODO! Histórias não se importam com quem toma parte delas: O IMPORTANTE É QUE SEJAM CONTADAS, QUE SE REPITAM.....As  Histórias são parasitas que manipulam vidas a serviço apenas de si. Somente UM TIPO ESPECIAL de pessoa pode reagir e se tornar o bicabornato da História: ERA UMA VEZ...
 O  LIVRO:  Antes mesmo que o homem pensasse em utilizar determinados materiais para escrever, as Bibliotecas da Antiguidade estavam repletas de textos gravados em tabuinhas de barro cozido. Eram os primeiros “livros”. Através deles tornou-se possível transmitir fatos, acontecimentos históricos, descobertas, tratados, códigos, ou apenas entreterimento.
MITOS:

Os mitos são relatos fantásticos que encontram lugar fora do tempo definido, histórias de caráter simbólico, dotadas de lógica própria, criadas e preservadas pela tradição oral, eles possuem o poder de nos enredar em suas tramas alegóricas, estimulando o inconsciente coletivo e ajudando a construir a mitologia pessoal. O termo grego müthos, significa fábula ou relato e deriva do verbo muthéin, o qual expressa o ato de inventar histórias. Etimologicamente, está ligado a mithos, que se traduz por fio de teia ou filamento.
Uma crença mais antiga que a própria consciência da existência, fazem parte do âmago do Universo e conseqüentemente da essência do ser...Tudo está interligado, todo o esquema já está montado, são como os finíssimos fios que fazem parte da trama de uma teia de aranha. É preciso aprender a ler os “sinais” que nos foram deixados e perduraram durante os séculos, os sinais que não foram esquecidos, os sinais da Natureza.


O mitológico Campbell (1904-1987) em sua obra As máscaras de Deus, cita a dança ritualística como forma de padrões arcaicos de comportamento, igualmente encontrada entre os macacos, os pássaros, os peixes e até mesmo entre as abelhas. E questiona se o homem como os demais seres da criação, não possuiria alguma tendência inata para reagir de forma racial, estritamente padronizada, a certos sinais do meio ou de sua própria espécie.
Com o transcorrer do tempo, o homem foi cada vez mais  se esquecendo desse seu lado mitológico, desse seu lado mágico; condenando-se assim ao “mundo das sombras”. É preciso enxergar além, abrir-se para o “mundo das idéias”, crer no aparentemente inusitado; como observaram Bergier e Pawels em seu livro O Despertar dos Mágicos: “Esquadrinhar a história invisível é um exercício muito são para o espírito. Desembaraçamo-nos da repugnância pelo inverossímil que é natural, mas que muitas vezes paralisou o conhecimento.” 
O fantástico virou sinônimo de satírico, algo impossível, coisa de doido, talvez, para camuflar seus poderes... Pois, a descoberta da mitologia pessoal, essa libertação do “mundo das sombras”, a leitura e uso dos símbolos e signos, acarretam um conhecimento superior temido por muitos. Esse antigo conhecimento perdurou disfarçando sua importância através das histórias infantis- O encanto, a mágica, o valor simbólico e a importância dos objetos, estão camuflados em simples brincadeira de criança, Isso porque em determinada época da historia, tais crenças foram condenadas com pagãs e somente perduraram por séculos, graças a este disfarce, por terem entrado para o “Maravilhoso Universo Infantil”, onde tudo é possível e a censura inexistente. O estudo do Universo onírico é de grande importância tratando-se deste assunto, Freud (1856-1939) e Jung (1875-1961) detiveram-se amplamente sobre este assunto. Freud, observou que, muitas vezes, sonhamos com elementos que nada tem haver com a experiência pessoal; chamou tais formas de resíduos arcaicos, que aparentam ser traços primitivos representantes da herança comum do espírito humano. Dando continuidade às idéias de Freud, Jung observou que, assim como nosso corpo é um detalhado museu de órgãos, cada qual com sua longa evolução histórica e filogenética, também a mente deve ter tido uma evolução análoga. Jung chamou de arquétipos (assim como anteriormente o fez Platão), o que Freud chamou de resíduos arcaicos. Segundo Jung, arquétipos não podem ser herdados geneticamente, o que se transmite de geração a geração, é a tendência da mente a formar representações simbólicas, padronizadas em seu sentido genérico, mas totalmente variável em detalhes; o arquétipo é na verdade, uma tendência sensitiva dotada de direção e intenção tão marcada como o impulso das aves para fazer seu ninho, ou das formigas para se organizar em colônias.Tanto os resíduos arcaicos como os arquétipos, são signos cuja transferência de energia se dá com os objetos conforme a vontade da pessoa que o possui. O primitivo, por ter um instinto mais aguçado, tem mais facilidade em ver esse “lado mágico” da vida. Jung em seu livro O Homem – à descoberta de sua alma, afirma que: “O primitivo alia a um mínimo de consciência de si, um máximo de compenetração com o objeto, o qual é capaz de exercer sobre ele a sua magia constringente. Toda a magia e toda a religião primitiva se fundem sobre essas influências e interferências mágicas, que demandam do objeto e cuja origem só pode procurar-se em projeções de conteúdos inconscientes sobre o próprio objeto”. O objeto apresenta apenas uma parcela da projeção, o significado é subjetivo e o sujeito acaba fazendo parte da imago* do objeto. Assim, a vitalidade e a independência da imago, escapam à consciência de quem as projeta e, como observou Jung: “O objeto exterior consegue por pé na vida interior e nela participar. Eis como, por via inconsciente, um objeto exterior pode exercer uma ação psíquica imediata sobre o sujeito, visto a sua identidade com a imago o ter de certo modo introduzido no próprio seio das rodagens do organismo psíquica do indivíduo. Daí o “poder mágico” que um objeto pode conter em relação a certos indivíduos”.
 
 


 
 
 
 
 
 
 

sábado, 13 de julho de 2013

O BISPO É BEM LEGAL!


 
Arthur Bispo do Rosário perambulou numa delicada região entre a realidade e o delírio, a vida e a arte. No refúgio de sua cela no Hospital Nacional dos Alienados, na Praia Vermelha, o paciente psiquiátrico produziu mais de mil obras consagradas no mercado internacional de arte contemporânea. Criou um universo lúdico de bordados, assemblages, estandartes e objetos durante os mais obscuros períodos da psiquiatria – época dos eletrochoques, lobotomias e tratamentos violentos aplicados para o controle de crises. Sem se dar conta, Bispo não só driblou os mecanismos de poder no manicômio como utilizou sobras de materiais dispensados no hospital para criar suas obras, inventando um mundo paralelo, feito para Deus.
Dizia-se um escolhido do todo-poderoso, encarregado de reproduzir o mundo em miniaturas. Eram suas “representações”, afirmava. Paradoxalmente, as obras, que deveriam representar tudo o que havia na Terra acabariam reconhecidas como peças de vanguarda, incluídas por críticos em importantes movimentos artísticos. Sua arte genial chegou a representar o Brasil na prestigiada Bienal de Veneza, além de correr museus pelo mundo, a exemplo do Jeu de Paume, em Paris. Curiosamente, em vida, Bispo recusava o rótulo de “artista”, dado o caráter divino de sua tarefa. Mas a potência de sua obra ignora limites e até hoje atravessa fronteiras, transgredindo convenções e levando espectadores de todo o mundo ao encantamento.

A história da “loucura” de Bispo remonta à noite de 22 de dezembro de 1938, quando, aos 29 anos, conduzido por um imaginário exército de anjos, andou pelas ruas do Rio com um destino certo: ia se “apresentar” na igreja da Candelária, no centro. Peregrinou pelas várias igrejas enfileiradas na rua Primeiro de Março e terminou no Mosteiro de São Bento, onde anunciou a uma confraria de padres que era um enviado, incumbido de “julgar os vivos e os mortos”. Detalhes dessa narrativa, meio real meio ficcional, constam de um estandarte bordado por Bispo, uma das belas peças de sua vasta obra, que mistura autobiografia e autoficção. É nesse estandarte que Bispo registra a frase-síntese de sua vida e obra Eu preciso destas palavras – Escrita. A palavra tinha para ele status extraordinário, por isso seus bordados estão repletos de nomes de pessoas, trechos poéticos, mensagens.
O dia 24 de dezembro de 1938 foi um divisor de águas psíquico para Bispo. Era Natal, ele se convertia na figura de Jesus Cristo, mas acabaria sob o domínio da psiquiatria. Interditado pela polícia dois dias após a sua “anunciação”, foi enviado ao Hospital Nacional dos Alienados, na Praia Vermelha, onde rótulos não tardariam a marcar sua ficha: negro, sem documentos e indigente.
 
  

 
 
 
 



 
 

NOSSO V DE VINGANÇA - a promessa de esperança! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk (mais é, rs)

QUE TAL ESSA???
 
 
NOSSO V DE VINGANÇA!
 
 
Não posso só criticar e não propor alogo né?!? Então, seguindo os conselhos da minha amiga Val Frei, que tal unirmos os 2 maiores revolucionários da nossa história num só: LAMPIÃO e MARIA BONITA!
Com esta tendência liberdade sexual, acho perfeito: OS 2 NUM SÓ....
CURTIRAM NEGADA?

"Pode-se tortura pessoas; pode-se até tratá-las como se fossem animais; pode-se abusar delas de todas as maneiras; pode-se matá-las como se fossem moscas no verão. Mas as pessoas permanecerão LIVRES NO MAIS ALTO SENTIDO, pq, ELAS TÊM ALMAS..." (John Ruskin)

 
essa é minha imagem preferida desse contexto! PODEM CORTAR MINHA CABEÇA TAMBÉM, mas vamos mudar por favor!!!

 
 
"O consumo sábio é muito mais complicado do que a produção sábia. O que cinco pessoas produzem, uma única pode consumir facilmente, e a verdadeira pergunta para todos os indivíduos de todas as nações não é COMO DEVEMOS PRODUZIR, mas COMO NOSSOS PRODUTOS DEVEM SER CONSUMIDOS." (John Ruskin)
 
e essa pra finalizar: EM HOMENAGEM AO CARCARÁ (onde quer que esteja -CADÊ VC CARCARÁ?)
 

sexta-feira, 28 de junho de 2013

VOCÊ SABE QUEM É V DE VINGANÇA?!?

 
 V DE VINGANÇA
 

O que eu acho mais engraçado, pra não se dizer, bizarro,  na população do meu país é o desprezo por seu solo, por suas coisas, pelo nacional!
É UMA LOUCURA COLETIVA, uma HIPNOSE EM MASSA, ou quem sabe, uma maldição do estilo da história da Bela Adormecida onde, enquanto ela dormia, as pessoas de seu reino estavam num estado "congelado", empedadro!
Minha "PIRA DO MOMENTUMMM" (rsrs) surgiu a pouco e em decorrência das Manifestações e Mobilizações recentes. Percebi que, o "mascote", o ícone do Movimento é o V DE VINGANÇA!
 
 Não sei se foi combinado ou se foi puro Inconsciente Coletivo mas, muitas pessoas, muitas mesmo, usavam a máscara dele. Até aí, tudo normalllllll, esses dias, uma amiga veio em casa e eu  a chamei para ver o filme e perguntei se ela conhecia e, para minha surpresa, ela disse que nunca ouviu falar... Na sequência, pergutei pra outras amigas se conheciam e quase todas não...detalhe (amigas estudadas, bem de vida, etc....) Eu perguntei, pq vc acha que usam aquela máscara? Ela respondeu: ENFEITE, oras! kkk
FOI AÍ QUE PENSEI: Se elas, que tem mais fácil ascesso à cultura e a informação  não sabem quem é o que representa o V de VIgança, que dirá a "grande massa"...
Não tenho nada contra o V de vingança, absolutamente, até acho que  se encaixa perfeitamente ao contexto do país atualmente, entretanto, o que me incomoda é: Por que a nação brasileira, tem essa "tendência" de sempre achar que o que vem de fora é melhor que o que tem? Aí então surge a GRANDE indagação:
- Por que, até na hora de manifestar por mudanças e direitos locais, o povo brasileiro busca fora um ícone simbólico para o representar?? Agora responde, COM SINCERIDADE, que país do mundo faria isso?????? Por mais bizarro que fosse, Saci pererê, pierrô, Raul Seixas, Tim Maia, Fernando Pessoa ou até mesmo, uma ridícula celebridade global tipoooo, Odete Roitmammm (rs), mas de solo nacional!
Podemos ter o conceito de referência só que, precisamos transferir para o cotidiano e criar nossa própria história em cima disso. Como muito se falava na época da faculdade: É RELEITURA, NÃO CÓPIA!
Reclamamos tanto de tudo mas não nos damos conta que somos os maiores responsáveis por isso. Se pararmos pra pensar, somos o país mais 'idiota" do mundo: Vivemos no paraíso na Terra, temos o clima ideal, o solo ideal, tudo perfeito se comparado com os outros, porém, não aproveitamos nossos recursos, preferimos exportar a preço de banana nossos produtos e importar a preço de ouro - ISSO É RIDÍCULO!
 
 
v de vingança:

 
Uma poderosa e aterradora história sobre perda de liberdade e cidadania, em um mundo bem possível,"V DE VINGANÇA" permanece como uma das maiores obras dos quadrinhos e o trabalho que revelou ao mundo seus criadores, ALAN MOORE e DAVID LLOYD.Encenada em uma Inglaterra de um futuro imaginário que se entregou ao fascismo, esta arrebatadora história captura a natureza sufocante da vida em um estado policial autoritário e a força redentora do espírito humano que se rebela contra essa situação. Obra de surpreendente clareza e inteligência, "V DE VINGANÇA" traz inigualável profundidade de caracterizações e verossimilhança a este audacioso conto de opressão e resistência.
E agora, só pra concluir: Enquanto não valorizarmos a nós mesmos, nosso país e nossas coisas, não há manifestação que mude, precisamos mudar a nós, pra depois mudar o mundo!
 
Acho vocês humanos bem interessantes...Apesar de serem imprestáveis! Que coisas fascinantes existem nesse Planeta: ESTRANHOS MORTAIS COM CURIOSOS COSTUMES...
 
 

domingo, 23 de junho de 2013


Mitologia e contos de fadas

Ao contar a história da origem e criação do mundo, recriando uma memória, os mitos permitem ao homem tornar-se participante dos ciclos da vida, integrado à natureza, podendo aceitar a morte e superar as angústias levantadas por saber-se frágil e mortal. Em sua origem, o mito é uma experiência emocional que emerge numa etapa muito primitiva, anterior à linguagem; quando os mitos chegam até nós, da maneira como os conhecemos, já sofreram muitas transformações, evoluíram para uma forma oral e posteriormente literária (Azoubel Neto, 1993); passam então a ser como os sonhos de uma cultura, expressando nossas angústias, desejos, conflitos e sua elaboração. Os contos de fadas, de forma semelhante, nos falam sobre as questões mentais a serem enfrentadas a cada etapa do desenvolvimento.
Nesse contexto, a importância dos cabelos para nosso imaginário é representada por várias figuras: Medusa, com seus cabelos de cobra; Sansão, cuja enorme força estava nos longos cabelos; as sereias, que seduzem cantando e se penteando; e ainda Rapunzel, a meninota de longas tranças pelas quais o príncipe subia, para visitá-la na torre onde se encontrava encerrada.
 
 
Na evolução do nosso tema, o que era um reflexo de preensão filogenético, visando à sobrevivência física do indivíduo e da espécie, passa a ser também uma sensação tátil que ameniza as angústias terroríficas de cair, o que Tustin (1990) chamou formas; posteriormente, após uma primeira concepção, um primeiro pensamento de algo, cabelos, que contêm o terror, inicia-se a da construção de uma vida mental. Essa sensação que tranqüiliza vai se transformando e adquirindo um sentido; segue-se a criação dos mitos e contos de fadas, que apontam para os significados que os cabelos vão tomando no imaginário humano.

Medusa Personagem da mitologia grega, as Górgonas personificam os perigos do mar; são monstros que condensam a tendência à sexualidade perversa, expressando nossos aspectos mais primitivos e fantasias ligadas a ataques sádicos por inveja, ciúme e rivalidade. Medusa, a única mortal, como suas irmãs, tinha cobras no lugar de cabelos, garras de bronze, presas de javali e asas de ouro. Quem a olhasse ficava petrificado; suas presas e garras corresponderiam ao desejo de dilacerar a mãe-terra. Olhar para a Medusa petrifica; a pessoa mantém a forma humana, mas perde a capacidade de sentir, está morta de terror.

Para Freud (1941[1922]/1976), cobras significam uma defesa contra a castração frente à visão do genital feminino; para Klein (1932/1969), a mãe com o pênis do pai; já para Anzieu (1985/1988), a perda da pele continente por dilaceramento.

Numa das versões do mito, Medusa teria sido uma bela jovem orgulhosa principalmente de seus cabelos. Seu crime teria sido unir-se a Netuno (ou a Zeus) num templo dedicado a Palas Atena; esta, em seu ciúme edípico, transformou-a em monstro. Assim, a rival de lindos cabelos, desejada e admirada, é transformada, por ódio e inveja, num objeto denegrido, porém ainda temido, já que continua poderoso. Aqui temos a mulher atraente (fêmea ou mãe) odiada por ter a capacidade de despertar desejo; punindo Medusa, Palas desloca e descarrega o ódio ao seu objeto de amor para a mulher que atrai (e a trai).

Sansão É umpersonagem bíblico. Sua mãe era estéril, mas seu nascimento foi anunciado por um anjo de Jeová: ele seria um nazireu de Deus; portanto, deveria consagrar-se totalmente a Jeová, não ingerir nada provindo da videira e não cortar os cabelos.

Nessa época os hebreus viviam sob o jugo dos palestinos, mas Sansão só se interessou por mulheres desse povo; casou com uma delas, mas, como quis enganar seus convidados e a mulher os ajudou, foi tomado de muito ódio e os dizimou. Os ataques se repetiram de parte a parte, com Sansão causando grandes estragos. Dalila, uma palestina, foi então contratada para saber de onde provinha tanta força; ela vai insistindo em saber seu segredo até que ele lhe conta: Sua força provém dos cabelos compridos, por ser um nazireu de Deus.Dalila faz com que lhe cortem os cabelos enquanto dorme, de forma que os filisteus podem prendê-lo, cegá-lo e escravizá-lo.

O corte dos cabelos aponta para o fato de, sendo moralmente fraco e contando seu segredo a uma palestina, ter sido interiormente infiel a Jeová (comunidade shaloom). Algum tempo depois, já com os cabelos crescidos, ele é levado a um estádio para ser humilhado; apóia-se então nas colunas de sustentação do local, invoca Jeová, pedindo força para se vingar, e derruba então as colunas, matando a todos e morrendo com eles.

Várias são as histórias populares em que surge a figura do herói cheio de força e de vida, um ser anunciado, filho de pais idosos ou estéreis. São contos que nos falam do desejo de procriar (reparar) independentemente das limitações da realidade. A reparação é alcançada por defesa maníaca e não por se ter alcançado a posição depressiva; a conseqüência disso é que o filho esperado não é um ser comum, mas um ser superior, onipotente.

A Sansão, tudo é permitido; quem atravessa seu caminho comete um crime de lesa-majestade. Sua força está na dependência de que mantenha concretamente os cabelos longos, sinal não somente de virilidade como de força divina. Não há desenvolvimento de força mental ou de valores éticos; da mesma forma que seus cabelos, não sendo aparados, não ganham forma, ele não se civiliza, não se humaniza. O sofrimento, quando ele se percebe um ser comum, não leva ao desenvolvimento, apenas ao desejo de vingança.

Sereias Personagens da mitologia greco-romana com corpo de peixe e tronco de mulher, representam uma figura combinada, masculina e feminina simultaneamente. Costumavam aparecer em pequenos grupos e sentar-se nos rochedos, onde permaneciam penteando os longos cabelos enquanto cantavam. Lindas, impossível resistir ao seu canto e aos seus encantos. Mas não é cantando que as mães embalam seus bebês para que eles se tranqüilizem e adormeçam? E não é freqüente que elas estejam com os cabelos soltos ao tê-los nos braços? Sendo o sono um estado regressivo, o embalar materno é um convite à regressão, à volta a um mundo aquático, uterino.

Iemanjá e Iara No Brasil, temos o correspondente das sereias na figura de Iemanjá, Sereia do Mar, e da Iara, a Mãe-dÁgua.

Iemanjá é um orixá4 feminino, originalmente padroeira do rio Ogun, na África. No Brasil, é padroeira do mar e dos amores, mãe de todos os orixás. Vaidosa, recebe de seus devotos pentes, perfumes e flores, que são lançados ao mar para que ela, recebendo-os, os proteja. Ela atrai os marinheiros e os leva para o fundo do mar.

Iara, Senhora das Águas, da mitologia tupi, habita as águas doces e pode tomar muitas formas. Nas noites de lua cheia, penteia os longos cabelos sentada nas pedras dos rios. Extremamente atraente, quem a vê se deslumbra, ficando cego, e quem a ouve é atraído para o fundo das águas.

Encontramos assim, na mitologia de povos tão diferentes e distantes, a mesma figura, expressão das mesmas angústias: uma figura materna meio peixe, meio humana (o pênis representado pela cauda e pelos cabelos) que aprisiona e impede a individuação.

Rapunzel Personagem do conto de mesmo nome (Grimm, 1819/1914), no qual um casal, diante de uma gravidez e de momentos de muita felicidade, tem de se haver com fantasias e atuações de roubo. A mulher passa a desejar desesperadamente os raponços (em alemão, rapunzel) que vê na horta de uma vizinha e o marido aceita roubá-los para ela.5 A dona da casa o surpreende e exige que ele lhe entregue a filha quando esta nascer, dando-lhe o nome da planta. A criança fica, pois, marcada pela atuação dos pais; uma menina– Rapunzel– é fruto de uma equação simbólica (Segal, 1954/1991): bebê = raponço = pênis.

É um conto que nos fala da incapacidade dos pais de conter os impulsos orais e o desejo de apropriação. Não há nenhuma menção a pedir ou comprar os raponços; a pessoa que os possui é tida como bruxa apenas por ter a posse deles (o pênis mágico), sendo eles capazes de despertar inveja e cobiça.

Quando a menina completa 12 anos, a mãe adotiva a encerra numa torre sem portas, só com uma janela, para que ela não tenha contato com ninguém mais. Quando quer vê-la, pede-lhe que jogue as tranças e sobe por elas. Mas um dia um príncipe a ouve cantar, espera para ver quem é e descobre como subir até ela; planejam então fugir juntos, e Rapunzel lhe pede que traga fios de seda para tecer uma corda e ir-se com ele. Porém, num ato falho, deixa que a mãe saiba da existência do jovem. Esta corta suas tranças, abandona-a num deserto e joga o rapaz do alto da torre; ele cai sobre um espinheiro, ficando cego. Passam-se muitos anos até que consigam se reencontrar; as lágrimas de Rapunzel o curam da cegueira e eles alcançam a felicidade.

A mocinha de longas tranças, presa de pais infantis, tenta escapar a uma mãe invejosa e formar um casal. Descoberto, o par é separado e punido pela mãe - madrasta que não suporta o crescimento e a individuação da filha; é separado pelos aspectos invejosos que não toleram a capacidade de vinculação.

A figura feminina é apresentada cindida, presa aos aspectos orais; a menina se desenvolve, mas ainda permanece presa a uma relação materna, sem poder contar com uma figura paterna que a auxilie; as fantasias sexuais são representadas pelo uso da torre para subir e descer e as de bissexualidade, pelas longas tranças (fálicas) tão poderosas; os recursos são encontrados ainda no próprio corpo, num investimento narcísico.

Os cabelos-pênis permeiam todo o conto: nos raponços com cabelinhos brancos e sumo agridoce, nas longas e fortes tranças loiras como ouro fiado, na escada de seda amarelinha; essa é a primeira tentativa de buscar recurso com o auxílio masculino, o que permitiria romper a simbiose. Rapunzel vai lutando contra as adversidades, com os aspectos invejosos, até poder formar um par. Ao alcançar a posição depressiva, suas lágrimas podem fazer a reparação e o príncipe voltar a enxergar.

Nesses contos e mitos, temos um contínuo das representações mentais desde a figura mais primitiva e terrorífica, a Medusa, passando por Sansão, com seus cabelos identificados a um pênis onipotente, pelas sereias, cuja cauda e cabelos as tornam bissexuais, até Rapunzel, que luta por alcançar integração e desenvolvimento. Em todos eles os cabelos expressam algo poderoso.

Algumas situações clínicas

Pedro

O tema cabelos esteve presente em todo o nosso trabalho (Oliveira, 2001).

Por volta dos dois anos, colocava as fraldas do irmão na cabeça, para ter cabelos compridos, e os enfeites de cabelo das primas. Com meses, esfregava o rostinho nos longos cabelos da mãe, era louco por eles(sic). Esse bebê, ao fazer contato com o seio, o rosto e os braços da mãe, fazia também contato com seus cabelos, que provavelmente tinham grande importância e significado para ela; suponho que em tal interação isso tenha sido apreendido. Ele procurava agarrar-se a eles como forma de não se separar, o que nos remete à pulsão de apego de Balint e a uma situação de bidimensionalidade.

Posteriormente, na sua fantasia, cabelos = seio = bebê foram identificados numa equação simbólica. Assim, quando começou a engatinhar, comia quanto cabelo encontrasse, desenvolvendo um quadro de tricofagia. Cabelos era uma figura onipotente que ele desejava ter-ser e que servia como defesa frente à percepção da própria fragilidade. Desde muito cedo procurou incorporar esse objeto concretamente, primeiro pela pele e depois oralmente.

No transcorrer do trabalho de análise, passou a contar e representar cenas de histórias e contos de fadas. Ele se identificava fortemente com as princesas (sempre de longos cabelos) e depois com as madrastas e bruxas, quando então as destruía com grande prazer.

Rapunzel– Sua importância se restringia às tranças cor de ouro (cor da superioridade), em que ele queria se transformar. O que parece uma identificação feminina é uma identificação com uma figura combinada idealizada; por conta de fortes aspectos psicóticos, transformava a figura feminina num Ser de Luz, mantendo a figura combinada onipotente que impede a formação do casal capaz de gerar vida. Precisando desesperadamente sentir-se fundido à mãe, só podia ver uma dupla como sendo fundida.

A Pequena Sereia– Nesse conto, a sereia, por amor a seu príncipe, aceita trocar a voz por pernas que lhe permitiriam andar, aceita deixar o mundo aquático e narcísico pelo das relações objetais, o mundo idealizado pelo da realidade. Para alcançar o amor objetal, é preciso aceitar a limitação, abdicar da figura combinada bissexual e passar à introjeção do casal parental; só assim se poderá pisar na terra firme da realidade psíquica e da formação da identidade. Também aqui, longos e volumosos cabelos estão presentes.

Nessa época a brincadeira favorita de Pedro era fazer com que animais atravessassem desfiladeiros por cordas que freqüentemente se rompiam. Ele estendia barbantes entre os objetos da sala; os animais deveriam passar de um lado para o outro, mas os barbantes freqüentemente se rompiam ou balançavam. Esses barbantes-cabelos não ofereciam sustentação e segurança.

Mortícia Addams– Surgem os Addams, tão anti-establishment, fúnebres e amorosos. Mortícia (de longos cabelos) é a primeira figura feminina que se aproxima de ser uma mulher e não um Ser de Luz. Pedro agora fala de toda a família: pai, mãe e um casal de filhos. Faz figuras com massinha para representá-los e no final de algumas sessões pede que eu os prenda na tampa de sua caixa, me explicando que precisam pôr o cinto de segurança para não cair.Podem existir crianças quando, e se, há adultos capazes de cuidar delas; em vez de barbantes bambos há cintos de segurança que posso ajudar a firmar.

Juca

Os pais de Juca me procuraram quando ele estava com 16 anos e souberam de sua atração por rapazes. No decorrer do trabalho de análise surgiram sonhos, fantasias sadomasoquistas e alucinações auditivas. Surgiu também a lembrança de que, por volta dos três anos, colocava na cabeça as fraldas do irmão dois anos mais novo, para ter cabelos compridos como os de uma menina, e também a lembrança de que, dos desenhos que na época via na TV, desejava ser a Cintilante, uma heroína que podia voar. Ela representava seu desejo e fantasia de se transformar num ser que, voando, desafiava a realidade, e, não sendo ela a heroína principal, era alvo menor dos ataques invejosos. A fralda-cabelos serviria para transformá-lo nesse ser poderoso e lhe garantiria alguma identidade e autonomia; como Cintilante, não teria de se haver com as limitações humanas, estas sim terroríficas, principalmente considerando a força do seu sadismo.

Anzieu (1985/1988, p. 119) afirma:

[] a pele do bebê faz da mãe o objeto de investimento libidinal. [] Se o investimento da pele é mais narcísico que libidinal, o envelope de excitação pode ser substituído por um envelope narcísico brilhante, passível de tornar seu possuidor invulnerável, imortal e heróico.

Pedro e Juca punham as fraldas dos irmãos na cabeça para ter-ser cabelos compridos; o desejo de se transformar num ser-cabelo-cintilante estava presente em ambos como defesa contra intensos sentimentos de fragilidade e desvalia; o grande prazer em dilacerar e destruir sadicamente aumentava ainda mais o terror e a necessidade de um objeto idealizado.

Maria

Foi uma criança que apresentava muitos terrores. A mãe, uma pessoa intelectualmente desenvolvida, lutando por se firmar profissionalmente, não percebeu que estava grávida. Quando soube do fato, apresentava-se então como se não houvesse conflitos e medos a serem enfrentados e como se um filho, o primeiro, não provocasse nenhuma mudança em sua vida.

O parto foi a termo, fácil e rápido, talvez rápido demais, sendo Maria lançada ao mundo sem contar com quem lhe oferecesse continência. O pai mostrou-se incapaz de sustentar a família tanto econômica como emocionalmente. Com muita freqüência a mãe lia enquanto amamentava, havia poucas possibilidades para Maria encontrar seu olhar, quanto mais um olhar apaixonado. A criança tinha grande dificuldade para dormir, e para isso, ou quando queria colo, punha-se a alisar os cabelos da mãe.

Com o desmame, passou a realizar o seguinte ritual: segurava o copo com uma das mãos e com a outra uma mecha de cabelos; cada gole era retido na boca com movimentos entre sugar e mastigar. Esse comportamento permaneceu por muito tempo.

Podemos pensar nesse bebê, extremamente inteligente e sensível, se dando conta de situações que não tinha como enfrentar; um bebê que não encontrava os olhos da mãe para neles se encontrar. Esta, tendo que se ocupar de seus interesses profissionais enquanto amamentava, nos conta que não podia perder-se em si mesma e se identificar com o bebê; pelo contrário, fugia dele e de suas próprias angústias primitivas. Maria, segurando o copo e os cabelos, numa pseudo-independência, mantinha a ilusão de se alimentar e de se segurar sozinha, amenizando o terror de não ter quem a contivesse.

Dois casos de alopecia areata6

Antonio

Apresentou um quadro de alopecia por duas vezes: no final das gestações, suas duas filhas correram risco de vida, tendo sido salvas pela presteza do atendimento médico. Com as crianças bem, e já em casa, houve remissão do quadro.

Nossa hipótese é que Antonio se identifica com a mulher, que deixa seus bebês caírem, e os cabelos com o bebê em risco; simultaneamente se identifica com os bebês, e seus cabelos caindo com a mãe, que não oferece sustentação. Ele revive o terror de cair, é um filhote sem cabelos-mãe onde se agarrar.

Ana

Procura um trabalho psicoterápico por se encontrar muito deprimida; informa que tem um quadro de alopecia desde a adolescência, quando perdeu todos os pêlos (alopecia universal). Diante de detalhes de sua história, formulamos a hipótese de que teme ter a identidade destruída; se se mostrar atraente, feminina, com lindos cabelos, despertará desejo e será usada, desconsiderada, será uma coisa.

Em poucos meses de trabalho, Ana foi saindo do estado depressivo, passando a se interessar por fazer trabalhos manuais criativos e de muita beleza, confeccionando bijuterias e bolsas com retalhos de tecidos. Surgia uma outra faceta; a mulher empreendedora podia abrigar também criatividade, suavidade, beleza– uma mulher que tentava retecer a si mesma juntando os retalhos de forma harmônica, refazendo um continente para suas experiências de dor e desespero. Nessa ocasião, comenta: O primeiro dia que vim aqui foi no dia do meu aniversário; nasci de novo!Logo depois nota que está ocorrendo uma repilação (na alopecia o folículo piloso não morre, permanece na fase catágena, num estado de inércia, esperando a ocasião de poder voltar à vida).

No entanto, os aspectos perversos voltaram a dominar; ela interrompe o trabalho psicoterápico e uma possível repilação.

Adendo

A alopecia areata é de etiopatogenia desconhecida e sua evolução está relacionada com a forma clínica. Nas publicações brasileiras os fatores emocionais são considerados secundários, mas, na observação de crianças, Békei (1991) encontrou, como fatores desencadeantes, vivências íntimas angustiantes relacionadas à morte ou à separação do objeto, ou ao medo de perder seu amor.

Seu estudo sobre o tipo de ligação que as crianças alopécicas tinham com a mãe e qual a estrutura egóica em formação demonstrou que havia, por parte das mães, dificuldade em ter empatia com elas, e nas crianças, a permanência de uma relação de objeto simbiótica, portanto sem clara distinção entre eu e não-eu. Numa importante porcentagem dos casos, alcançou-se uma modificação do tipo de relação entre as crianças e as mães e o desaparecimento gradativo dos sintomas, com a organização de grupos de auto-ajuda para as mães e grupos terapêuticos para as crianças.

Quando há perda do objeto e este não está suficientemente discriminado, a criança sente que perdeu concretamente partes de si mesma, partes do próprio corpo e não algo mental. Assim, os sintomas são físicos; nos casos de alopecia, eles expressam a perda da mãe-cabelos que ofereceria sustentação.

Um caso de desenvolvimento de pêlos

Numa matéria sobre crianças perdidas exibida na TV, foram dadas as seguintes informações: na África, um menino de 5 anos, tendo visto o pai matar a mãe, fugiu para a floresta perto da qual morava; sobreviveu comendo o que encontrava, sempre com muito medo. Um dia, vê um grupo de macacos e se põe a observá-los. Após algum tempo, um deles se aproxima e lhe dá uma banana; depois, outro lhe dá uma fruta. Ele segue o bando e vive com eles por sete anos. Um dia surgem algumas pessoas que disputam frutas com os macacos; uma mulher o vê, acha que é diferente dos outros animais, fala com ele, aproxima-se, e ele a acompanha. Quando os pesquisadores o encontram, está com os humanos há três anos.

O que surpreendeu os cientistas, que não encontraram explicação para o fenômeno, foi o fato de ele ter desenvolvido pêlos em áreas onde os homens não mais os têm. Formulamos a hipótese de que essa criança, encontrando acolhida e cuidados entre os macacos, faz uma identificação com esse objeto bom e passa a ser como ele. Reencontra nos macacos a segurança perdida e, com isso, desenvolve os pêlos que oferecem sustentação.

Conclusão

Do ponto de vista tanto do indivíduo como da espécie, cabelos-pêlos têm função protetora contra agentes externos, perda de calor e ainda contra inimigos. Fazem parte do aparelho sensorial cutâneo e, por estarem ligados tanto às áreas mais arcaicas do sistema nervoso central como às mais desenvolvidas, participam das alterações a que o organismo está sujeito conforme as emoções variam. O fato de existir um reflexo de preensão no recém-nascido humano, resquício dos bebês primatas, que precisam se manter presos aos pais para continuar vivos, evidencia um fator filogenético para se agarrar a uma mãe-pêlos que nos protegeria de um cair sem fim. Soma-se a isso a importância dos pêlos-cabelos frente à satisfação da pulsão de apego; dessa forma, podemos dizer que há uma pré-concepção quanto a cabelos como defesa contra o terror de cair, algo que oferece segurança e continência. A partir dessa origem, os cabelos-pêlos passam a ter função protetora também contra os diversos tipos de angústia. Isso se expressa no significado que os cabelos vão alcançando para os vários povos e culturas, assim como para diferentes indivíduos. A força dessa matriz filogenética se expressa pela importância universal de que os cabelos são investidos afetiva e sexualmente.

 

 

Os cabelos têm valores simbólicos. O universo teve começo, segundo a tradição indiana, através da tecedura dos cabelos de SHIVA é ainda, nessa mesma cultura, os cabelos soltos são características de divindades terríveis como VAYU, o vento, e também com Ganga, o rio Ganges, manifestação da divindade acima mencionada, que flui de sua coroa de cabelos emaranhados.

Na China, os cabelos dispostos ao redor da cabeça representam o sol. E, também podem ser símbolos de sacrifício como T’ang, que ofereceu seus cabelos em sacrifício pelo seu povo. Assim, essa representações extrapolam o limite do ser humano, expandindo-se através do universo da simbologia cósmiza.

Os índios Hopi do Arizona acreditavam que o corte do cabelo tinha que ser feito de maneira coletiva, durante as festas de solstício de inverno, para não perderem a força vital.

O primeiro corte de cabelo do Príncipe Herdeiro dos Incas coincidia com o momento em que era desmamado ao completar dois anos de idade. No mesmo momento em que cortava o cabelo, recebia o nome, tornando-se uma pessoa, fato que acontecia numa grande festa coletiva.

Um caso individual da força do cabelo é a história bíblica de Sansão e Dalila. Ao contrário das histórias relatadas nos dois parágrafos acima, Sansão perdeu os poderes quando lhe cortaram os cabelos.

As tranças e os cabelos longuíssimos têm como simbolismo a submissão. A trança dos chineses, a das mulheres russas, e, até mesmo, a de Rapunzel da lenda de Grimm provam este fato. Porém, podem ser também símbolos de salvação como a de Lady Godiva, que se vestiu só com seus longos cabelos e livrou seu povo dos pesados impostos.


As perucas foram adotadas por várias razões. Os egípcios, por exemplo, raspavam a cabeça por higiene e usavam perucas para se embelezar. Até mesmo as barbas dos faraós eram postiças. Cleópatra tinha todo tipo de jóias incrustadas nas suas perucas.

Luís XIV, o Rei Sol, possuía também uma grande coleção, que era cuidadosamente tratada e cacheada. No afã de agradar ao Rei de França Luis XVI, as damas da corte se exibiam, cada qual, com apliques cada vez mais extraordinários. Alguns recebiam vasos para flores naturais, cheios d’água, outros pássaros voando recebiam vasos para flores naturais, cheios d’água, outros pássaros voando presos por fios de seda. Havia também aqueles com tendas militares e canhões, navios, mobília completa de sala e de quarto, jardins floridos, exemplos de algumas das decorações inventadas por essas damas, que a tudo se submetiam, muito bem empoados com farinha, que possivelmente fazia falta ao povo faminto.

No Brasil, muito ouro de Minas foi desviado pelos cabelos fofos dos escravos e escravas, e era usado para pagamento de alforria dos negros, para seus adornos filigranados e para decoração das suas igrejas. No Rio de Janeiro do século XIX eram os escravos de ganho que exerciam as atividades de barbeiro e cabeleireiro. Também acumulavam as funções de vendedores de pentes e remendavam as meias de seda. Mais tarde, chegaram os cabeleireiros franceses para a alegria das damas de então.

E, nos remetemos ainda à trança que abalou a Rua do Ouvidor, exposta em uma vitrine de loja de cabeleireiro. Ela foi muito admirada por sua extensão. Depois de muita especulação soube-se que era de uma mineira, que tinha fortes dores de cabeça, por usar essa trança de mais de dois metros de comprimento, e o médico a aconselhou a cortá-la, tendo assim curado a sua mazela. Mami Wata, figura mítica africana, possuía numa mesma cabeleira invejável, todos os tipos de cabelo: lisos, crespos, ondulados, carapinha, loiros, morenos e ruivos.

A Vênus Romana inspirou as "Vênus" loiríssimas do século XX, como Marilyn Monroe.

Mas, Lamartine Babo na sua sabedoria, democraticamente, exaltou as morenas, as mulatas, as ruivas, e as loirinhas, todas naturalmente com lindos cabelos escovados, tratados, brilhantes e vitaminados.

Carnavalesca: Rosa Magalhães

Autores do enredo: Rosa Magalhães e Alex Varela (Historiador)

Bibliografia:

CHEVALIER, Jean et alii. Cabelos. In: Dicionário dos Símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987, pp. 154-157.

COHEN, Alberto ª. Ouvidor, a rua do Rio. Rio de Janeiro: AACohen, 2001.

JUNG, Carl G. O homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1984.

MACEDO, J. M. de. Memórias da rua do Ouvidor. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1988 [1ª ed. 1978].

Mami Wata. In: http: pt.wikipedia.org/wiki/Mami_Wata (Acessado no dia 21/07/2010).

MARQUES, Silvia. A História do Penteado. São Paulo: Matrix, 2009.

ROUSSELOT, Bernard. Mythologies. Une Anthologie Illustré des Mythes et Légends du Monde. Paris: Éditions Grund, 2002.

GRIMM, Rapunzes. In: Os Mais Belos Contos de Grimm. São Pulo: Ciranda Cultural Ed, 2007.

 

CABELO – Representa principalmente força e poder. Na antiguidade, cabelos longos e soltos eram um símbolo de liberdade e nobreza entre os homens. Nas mitologias grega e hindu, as divindades mais terríveis sempre foram representadas com cabelos enormes e despenteados. Para as mulheres da Idade Média, não cortar os cabelos era uma demonstração de castidade. No Tibete e na Índia, os monges cortam os cabelos em sinal de devoção e humildade. Raspar a cabeça também faz parte de muitos rituais de origem africana, como a Umbanda e o Candomblé. A cor dos cabelos também apresenta valor simbólico: os loiros estão associados à luz e os ruivos à maldade.

 

cabelos (mitologia)


O cabelo da deusa Ísis tinha o poder de proteger e de devolver a vida, e foi suspendendo-o sobre Osíris que ela o fez ressuscitar. Nos deuses e heróis da Antiguidade, o cabelo também era símbolo de força e de poder, e por isso era longo e espesso, como o cabelo de Shiva. Quando cortado, era sinal de castração da força e da virilidade e, assim, Sansão ficou indefeso depois da traição de Dalila. Crenças antigas sobre os cabelos diziam que estes conservavam as propriedades e uma ligação com os seres humanos, mesmo depois de cortados. Era por isso, e pelo facto de que estas características podiam ser absorvidas pelas pessoas que os possuíam, que os cabelos eram utilizados nos rituais de bruxaria, guardados como relíquias pertencentes a santos e heróis ou, muito simplesmente, por qualquer mãe que recolhia e guardava os cabelos do seu filho para o proteger de todo o mal. Tanto no Oriente como entre a nobreza europeia, o cabelo comprido nos homens era sinal de virilidade e poder, e mesmo de nobreza e realeza. Entre os índios da América era um troféu de conquista e domínio já que os vencedores guardavam ao escalpe da cabeleira dos vencidos. No Vietname, existe uma forma de adivinhação do futuro através da forma como os cabelos estão dispostos na cabeça. Os cabelos desgrenhados são sinal de luto ou submissão e, na Índia, é comum as mulheres viúvas raparem o cabelo e cobrirem a cabeça com cinza. Como voto ou promessa, os cabelos podiam ser rapados ou nunca cortados. Os egípcios por exemplo nunca cortavam o cabelo enquanto viajavam. Na antiga tradição Rússia, só as mulheres solteiras podiam usar uma trança, já que as casadas tinham de usar duas tranças. Enquanto os eremitas deixavam crescer o cabelo como símbolo do seu abandono da vida terrena, na Igreja cristã, o cabelo era um sinónimo de liberdade e disponibilidade sexual, por isso, freiras e frades rapavam o cabelo ao mesmo tempo que formulavam os seus votos, já que com este ritual renunciavam aos prazeres e à vida terrena. S. Paulo exortava os homens a manterem o cabelo curto e as mulheres a cobrirem o cabelo durante as cerimónias religiosas, já que se acreditava que o cabelo das mulheres tinha poder sobre os anjos. Durante a Inquisição, tentou-se mesmo provar que as feiticeiras conseguiam desencadear tempestades apenas com o soltar da sua cabeleira.

  ESTILO E ESSENCIA Estilo pode incluir moda, design, formato, ou aparência, incluindo por exemplo: Estilos reais e nobres Em botâ...