MITOLOGIA PESSOAL
O termo grego müthos,
significa fábula ou relato e deriva do verbo muthéin, o qual expressa o
ato de inventar histórias. Etimologicamente, está ligado a mithos, que
se traduz por fio de teia ou filamento.
Uma crença mais
antiga que nossa própria consciência de sua existência, fazem parte do âmago do
Universo e conseqüentemente de nossa própria essência; tudo está interligado,
todo o esquema já está montado, são como os finíssimos fios que fazem parte da
trama de uma teia de aranha. É preciso aprender a ler os “sinais” que nos foram
deixados e perduraram durante os séculos, os sinais que não foram esquecidos,
os sinais da Natureza.
O mitológico Campbell
(1904-1987) em sua obra As máscaras de Deus, cita a dança ritualística
como forma de padrões arcaicos de comportamento, igualmente encontrada entre os
macacos, os pássaros, os peixes e até mesmo entre as abelhas. E questiona se o
homem como os demais seres da criação, não possuiria alguma tendência inata
para reagir de forma racial, estritamente padronizada, a certos sinais do meio
ou de sua própria espécie.
Com
o transcorrer do tempo, o homem foi cada vez mais se esquecendo desse seu lado mitológico,
desse seu lado mágico; condenando-se assim ao “mundo das sombras”. É
preciso enxergar além, abrir-se para o “mundo das idéias”, crer
no aparentemente inusitado; como observaram Bergier e Pawels em seu livro O
Despertar dos Mágicos: “Esquadrinhar a história invisível é um exercício
muito são para o espírito. Desembaraçamo-nos da repugnância pelo inverossímil
que é natural, mas que muitas vezes paralisou o conhecimento.”
O fantástico virou sinônimo de
satírico, algo impossível, coisa de doido, talvez, para camuflar seus poderes...
Pois, a descoberta da mitologia pessoal, essa libertação do “mundo das
sombras”, a leitura e uso dos símbolos e signos, acarretam um conhecimento
superior temido por muitos.
Muito desse antigo conhecimento
perdurou disfarçando sua importância através das histórias infantis: O encanto,
a mágica, o valor simbólico e a importância dos objetos, estão camuflados em
simples brincadeira de criança. Isso porque em determinada época da história,
com o advento do catolicismo, tais crenças foram condenadas com pagãs e somente
perduraram por séculos, exatamente por esse seu disfarce, por terem entrado
para o “Maravilhoso Universo Infantil”, onde tudo é possível e a censura
inexistente.
Também o estudo do
Universo onírico é de grande importância tratando-se deste assunto, Freud
(1856-1939) e Jung (1875-1961) detiveram-se amplamente sobre este assunto. Freud observou que,
muitas vezes, sonhamos com elementos que nada tem haver com a experiência
pessoal; chamou tais formas de resíduos arcaicos, que aparentam ser traços
primitivos representantes da herança comum do espírito humano. Dando
continuidade às idéias de Freud, Jung observou que, assim como nosso corpo é um
detalhado museu de órgãos, cada qual com sua longa evolução histórica e
filogenética, também a mente deve ter tido uma evolução análoga. Jung chamou de
arquétipos (assim como anteriormente o fez Platão), o que Freud chamou
de resíduos arcaicos.
Segundo Jung, arquétipos
não podem ser herdados geneticamente. O que se transmite de geração a geração,
é a capacidade da mente a formar representações simbólicas, padronizadas em seu
sentido genérico, mas totalmente variável em detalhes; o arquétipo é na
verdade, uma tendência sensitiva dotada de direção e intenção tão marcada como
o impulso das aves para fazer seu ninho, ou das formigas para se organizar em
colônias.
Tanto os resíduos
arcaicos como os arquétipos, são signos cuja transferência de
energia se dá com os objetos conforme a vontade da pessoa que o possui. O
primitivo, por ter um instinto mais aguçado, tem mais facilidade em ver esse
“lado mágico” da vida. Jung em seu livro O Homem – à descoberta de
sua alma, afirma que: “O primitivo alia a um mínimo de consciência de si,
um máximo de compenetração com o objeto, o qual é capaz de exercer sobre ele a
sua magia constringente. Toda a magia e toda a religião primitiva se fundem
sobre essas influências e interferências mágicas, que demandam do objeto e cuja
origem só pode procurar-se em projeções de conteúdos inconscientes sobre o
próprio objeto”. O objeto apresenta apenas uma parcela da projeção, o
significado é subjetivo e o sujeito acaba fazendo parte da imago* deste.
Assim, a vitalidade e a independência da imago, escapam à consciência de quem
as projeta e, como observou Jung: “O objeto exterior consegue por pé na vida
interior e nela participar. Eis como, por via inconsciente, um objeto exterior
pode exercer uma ação psíquica imediata sobre o sujeito, visto a sua identidade
com a imago o ter de certo modo introduzido no próprio seio das rodagens do
organismo psíquica do indivíduo. Daí,o “poder mágico” que um objeto pode conter
em relação a certos indivíduos”.
Imago, do latim imagem, mito, significa a representação de uma ideia, a correlação entre um objeto e o seu significado para a mente de cada indivíduo.
Em botânica, significa a fase da vida da borboleta que se inicia assim que ela abandona a forma de pulpa. É a borboleta jovem, que evoluiu de uma larva rastejante e se transforma em um complexo e esplêndido animal voador.
É uma belíssima demonstração de evolução.