Eis o paradoxo: a humanidade, dependente de sua sofisticada tecnologia, demonstra-se cada vez mais, interessada por assuntos “mágicos”.
Não há dúvidas de que, num
passado longínquo, o pensamento mágico era o único elo capaz, de explicar o
mundo e seus fenômenos...
A magia rompeu aurora muito
antes da escrita. O pensamento e a linguagem, são totalmente permeados por ela, como observou o psicanalista Jacques Lacan (1901-1980):
“O homem pré-histórico percebia em seu mundo uma fusão
incompreensível de fenômenos sonoros atrelados às suas imagens. Ele ”VIA” sons
no decorrer do regato, no balançar das árvores, no andar dos bichos, no
ribombar das tempestades, nos golpes de luta, no rolar das pedras; todas essas
ENTIDADES estavam tão vivas quanto ele próprio.”
A partir desse UNIVERSO
ACÚSTICO, uma série de SÍMBOLOS SONOROS pôde ser criada, na tentativa
de reproduzir os eventos naturais que, por sua vez, originaram a LINGUAGEM.
A antropologia e a semiótica
esclarecem esses acontecimentos: os NOMES dados às coisas pelo homem pré-histórico
revelavam-nas “EM SI”, declaravam seu verdadeiro som e seu modo de ser, conforme
a Natureza era percebida e sentida!
Foi por meio da linguagem
que o homem pôde diferenciar-se do ambiente à sua volta. Ao nomear as “coisas”, tornou real sua INSERÇÃO NO MUNDO,
passando a explorá-lo, a partir da porta da caverna, cada vez, com mais amplos
horizontes.
A formação de CONCEITOS
SIMBOLICOS é sempre um ATO CRIATIVO em sua concepção.
Para o homem pré-histórico, dado seu estado natural de ignorância lógica, tudo
tinha certo caráter mágico, inefável – Conforme aprendia
a criar símbolos, melhor dava conta de suas necessidades. Foi assim que despontou
o estopim revolucionário do pensamento humano, a conferir a toda humanidade,
uma identidade comum.
Desde que, o primeiro RASGO
DE PENSAMENTO, se desprendeu da FONTE DE CONSCIÊNCIA DE SI MESMO em que estava
imerso, (fato que, em termos Bíblicos correspondem à expulsão de Adão e Eva do
paraíso) uma FENDA ATEMPORAL foi aberta
pela espada flamejante do arcanjo Miguel, que escoltou o casal até a saída e
nela se prendeu o Elo Primordial da Magia. E, como não sabemos precisar, apenas
brincamos com as palavras, supomos que o ELO ORIGINAL está preso a nossa própria
capacidade de reflexão, ampliada pelo universo lúdico e criador da linguagem.
Isto quer dizer que, o VERBO da CRIAÇÃO é DIVINO em sua natureza.
Fomos presenteados com uma “mente
mágica”, uma herdeira legítima do estado de pureza original, feita à semelhança
do Criador e capaz de reproduzir o ato criativo pela MAGIA da PALAVRA.
Por meio de símbolos sonoros, que se
transformam em linguagem, idéias podem ser expressas.
Eles remetem à imagens
primordiais as quais, uma vez desenhadas, plantam a semente da escrita, que se
desenvolverá sob os mais diferentes aspectos gráficos nas diferentes culturas.
Alphonose Louis Constant (
Eliphas Levi) , um mago cabalista que se destacou na história do ocultismo, em seu
livro Ritual da Alta Magia discorre em várias partes sobre o poder do verbo como podemos observar nesta passagem:
“Denomina-se VERBO aquilo
que exprime o ENTE e a AÇÃO é a VERDADE DA VIDA, que se PROVA pelo
MOVIMENTO.”
Dos quatro evangelhos, o de
João é o único a abordar o tema: “ No principio era o VERBO, e o VERBO estava
junto de Deus.” A passagem procura nos alertar para o fato de que o VERBO é a
verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem.
Eliphas Levi viu o Fiat Lux Divino como um sinal de alerta para o homem: ele precisa abrir os olhos para
poder vislumbrar a GRANDE CONSCIÊNCIA por meio de sua inteligência.
A partir do Instante
Primordial em que nos conscientizamos de nós mesmos, feitos minúsculas estrelinhas
desprendidas do Sol, passamos a brilhar a Luz Divina uma vez que, somos
reflexos dela própria e a expressamos continuamente por nosso VERBO e por
nossos PENSAMENTOS, conservando a Magia do Deus Criador, ao mesmo tempo em que
exercemos o arbítrio. A INTELIGENCIA DESPERTADA tem sede e fome de luz. Sendo
assim, faz-se necessário que o homem inicia sua jornada de retorno à fonte.
“Centrando-se em si, a
consciência se vê tomada por angústias decorrentes de suas reflexões; olhando à
sua volta, enxerga o alcance de seu poder bem gravado na história das
civilizações.”
Deus não criou a DOR, a inteligência a aceitou
para ser livre!