FORMA E CONTEÚDO:
A pedagogia histórico-crítica,
propõe uma prática pedagógica, baseada na a interação entre o conteúdo e a
realidade concreta, visando a transformação da sociedade através da
ação-compreensão. O método dialético permite um sentido amplo aos conteúdos,
que não se esgota na prática uma vez que, o processo de formação humana deve
ser voltado para a unilateriedade, visando a formação de pessoas plenas de
humanidade. A relação do ser humano com o meio físico e social não é natural, nem
uma relação de adaptação do indivíduo, o homem pelo trabalho, transforma o meio
produzido pela cultura e se transforma, sendo assim, as relações sociais
influenciam na formação do caráter da pessoa e as crianças, por sua vez,
internalizam as oportunidades que lhes são oferecidas pelo meio, daí a
importância de se oferecer a elas, o que de mais elaborado existe disponível na
bagagem cultural do universo.
As
tradições culturais e os símbolos por elas criados, fazem parte do ser humano e
são ao mesmo tempo, exteriores a ele. De acordo com a
perspectiva Histórico-Crítica, somos frutos de um contexto histórico, e nos
constituímos nas relações sociais, por esse motivo, faz-se necessário,
possibilitar que a criança tenha acesso à experimentação, à pesquisa e a
leitura da linguagem visual e simbólica, da qual o desenho faz parte e, vale
lembrar que, os sentidos também são desenvolvidos socialmente, sendo necessário
estimular a criança a desenvolve-los. Esta perspectiva, tem grande preocupação
com a seleção e organização dos conteúdos escolares, estes conteúdos,
representam os elementos desenvolvidos culturalmente que devem ser assimilados
pelas gerações posteriores. A aplicação das bases da teoria histórico-cultural
e da pedagogia histórico crítica, dentro do cotidiano da sala de aula,
especificamente na relação forma e conteúdo, distancia-se da situação expressa
nos materiais apostilados e de práticas mecânicas, diz respeito de um lado, à
organização dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelas pessoas
e de outro, a descoberta das formas mais adequadas para se atingir esse
objetivo, isto é, dar forma e ao conteúdo. A questão central dessa perspectiva é a
problematização das formas, dos processos, dos métodos, estes por sua vez, não
devem ser considerados em si mesmos, pois as formas só fazem sentido na medida
em que possam viabilizar o domínio de determinados conteúdos...
A verdadeira história do homem,
diz respeito a história de suas atividades práticas e dos conteúdos que referem,
as teorias e aos conceitos estudados. A forma, tem relação com a prática e prática,
tem sua raiz no termo latim práxis,
sinônimo de conduta/ação. É uma teoria que representa a interação do homem com
o meio que o cerca e, só faz sentido realmente, se a pessoa conseguir alterar
sua conduta e isto, depende muito da mediação e de atividades orientadas para
determinado fim. A práxis promove a transformação das estruturas socias da
realidade, por desencadear uma ação reflexiva capaz de mudar a sociedade, é
entendida como uma mudança de parâmetros que ajuda a criar na prática novas possibilidades, de modo a impedir que, nem a
teoria (conteúdo) se cristalize como um dogma e nem a prática (forma) seja uma
alienação.
A práxis desencadeia na pessoa um processo de
abstração, que permite ao pensamento se fazer e refazer, proporcionando uma ação
individual no sujeito, que procura realizar sua prática. A práxis
intencionalmente dirigida para determinado fim, possibilita o surgimento do
pensamento abstrato e este, depende de alguns fatores, dentre os quais: estímulos
externos captados pelos órgãos sensoriais, lembranças evocadas da memória e
mensagens provenientes da mente; a capacidade da mente para criar novas rotas
ou descobrir meios inéditos de se alcançar objetivos relaciona-se com o
pensamento abstrato.
Abstrair significa remover algo
de algum lugar, pensar abstratamente, é considerar um conceito de forma ampla,
quando envolvido num processo criativo, o pensamento abstrato adquire proporções
enormes que por sua vez, produzem um forte estimulo capaz de produzir novas
sinapses, sendo dessa maneira, um estimulador de aprendizado, assimilação do
conhecimento e de potencialização da memória. O processo de abstração,
possibilita a decodificação dos objetos em símbolos e a linguagem simbólica,
permite ir além da experiência, restaurando o caráter simbólico da linguagem. As
abstrações são utilizadas para programar as atividades práticas das pessoas, as
áreas cerebrais utilizadas neste processo desempenham papel fundamental na
formação das intenções e na regulação de comportamentos humanos mais complexos.
De acordo com Lukács (1970), operacionalidade da particularidade, diz respeito
ao próprio instrumental de trabalho da particularidade no seio da obra de arte,
por meio do conteúdo e da forma. Eles têm entre si, uma relação orgânica e são
separados, só para efeitos didáticos, mas na prática não existem isoladamente.
“A função positiva da particularidade, considerada como categoria específica da
estética, ou seja, como a categoria que determina o que é específico da inteira
esfera da estética, estende-se como pudemos ver, tanto ao conteúdo quanto na
forma da arte, condicionando também a sua peculiar conexão, mais orgânica e
mais íntima do que em qualquer outro tipo de reflexo da realidade. A incessante
conversão da forma em conteúdo e vice-versa é, sem dúvida, o modo de ser
universal da realidade. ” (LUKÁCS, 1970, p. 235).
O pensamento da criança se serve
de imagens e símbolos, para solucionar problemas de operações internas por esse
motivo, é importante pensar conteúdos de ensino por intermédio de práticas e
mediações histórico-sociais, para ampliar os horizontes e as possibilidades
perante o mundo. Neste sentido, faz-se necessário, conteúdos metodológicos
convertidos em saberes, capazes de promover uma aprendizagem indireta,
interferindo assim, na construção de novas habilidades. Estes conteúdos de formação teórica, operam
diretamente no desenvolvimento das funções psicológicas na medida em que,
promovem a apropriação dos conhecimentos.
Tudo o que se aprende modifica a pessoa, o
conhecimento promove mudança de comportamento, o ideal, seria que a pessoa se
apropriasse dos conteúdos e imediatamente começasse a agir de acordo com aquilo
que apropriou. A educação é uma forma de trabalho não material que visa a
transformação da consciência através da apropriação dos saberes produzidos e
acumulados na história da humanidade, os conteúdos devem ser trabalhados na sua
totalidade numa perspectiva dialética e interdisciplinar visando a apropriação
e o desenvolvimento intelectual da pessoa.
Os homens transformam e se transformam por
intermédio de atividades práticas, e sua vida depende das relações que
estabelece para construção de uma prática coletiva que, por sua vez, é a
história da própria humanidade. É preciso deixar claro que, o social não é
produto do indivíduo, mas os indivíduos é que são produtos do social, neste
sentido, a individualidade, a forma das pessoas se relacionarem, a maneira pela
qual produzem e se inserem no mercado produtivo, seus gostos e seus desejos,
estão condicionadas histórica e socialmente.
Por este motivo é necessário
educar no sentido de ensinar a questionar, a respeito das relações que estão
estabelecendo, para construir a prática coletiva que constrói a história da
humanidade e o que é preciso mudar para melhorar. O sistema capitalista que
impera na contemporaneidade usa o sistema educacional para moldar os indivíduos
de acordo com seus interesses mesmo que não nos apercebamos disto, fazendo com
que a práxis intencional do indivíduo se funda a de outros, acarretando umas
práxis que cada um isoladamente, não desejou e produzindo resultados não
almejados. O resultado disso é que nós humanos, seres sociais e dotados de consciência
e vontade (aquilo que nos difere dos animais), acabamos por agir
inconscientemente desperdiçando assim, nossas capacidades e ignorando o fato que,
os resultados são fruto de suas atividades práticas.
O que a perspectiva por nós
abordada defende e aquilo que almejamos com este trabalho é utilizar as teorias
e ferramentas estudadas para o desenvolvimento de atividades que promova uma
mudança na práxis social do indivíduo e para tanto faz-se necessário que aprendam
através de uma práxis intencional. Uma práxis é intencional, na medida em que,
sua atividade consciente, adote uma forma social e se converta numa práxis coletiva.
É assim que ocorrem mudanças históricas decisivas e grandes transformações. Para
a pedagogia histórico-crítica, ninguém nasce pronto, as pessoas SE TORNAM e
isto depende de um comportamento criado uma vez que, as pessoas são o resultado
do seu meio. É necessário pensar a respeito de como está o mundo a nosso redor
e o que pode ser melhorado, somos os responsáveis pelas formas como criamos o
mundo e a nós mesmos como seres humanos e somente uma ação reflexiva pode mudar
a sociedade e é hora de o indivíduo superar sua condição de espécie para se
tornar humano.