RESÍDUOS ARCAICOS E ARQUÉTIPOS - objetos de poder
Freud, observou que, muitas vezes, sonhamos com elementos que nada tem haver com a experiência pessoal; chamou tais formas de resíduos arcaicos, que aparentam ser traços primitivos representantes da herança comum do espírito humano.
Dando continuidade às idéias de Freud, Jung observou que, assim como nosso corpo é um detalhado museu de órgãos, cada qual com sua longa evolução histórica e filogenética, também a mente deve ter tido uma evolução análoga. Jung chamou de arquétipos (assim como anteriormente o fez Platão), o que Freud chamou de resíduos arcaicos.
Segundo Jung, arquétipos não podem ser herdados geneticamente, o que se transmite de geração a geração, é a tendência da mente a formar representações simbólicas, padronizadas em seu sentido genérico, mas totalmente variável em detalhes; o arquétipo é na verdade, uma tendência sensitiva dotada de direção e intenção tão marcada como o impulso das aves para fazer seu ninho, ou das formigas para se organizar em colônias.Tanto
os resíduos arcaicos como os arquétipos, são signos cuja
transferência de energia se dá com os objetos conforme a vontade da pessoa que
o possui.
O primitivo, por ter um instinto mais aguçado, tem mais facilidade em
ver esse “lado mágico” da vida. Jung em seu livro O Homem – à descoberta
de sua alma, afirma que: “O primitivo alia a um mínimo de consciência de
si, um máximo de compenetração com o objeto, o qual é capaz de exercer sobre
ele a sua magia constringente.
Toda a magia e toda a religião primitiva se
fundem sobre essas influências e interferências mágicas, que demandam do objeto
e cuja origem só pode procurar-se em projeções de conteúdos inconscientes sobre
o próprio objeto”.
O objeto apresenta apenas uma parcela da projeção, o
significado é subjetivo e o sujeito acaba fazendo parte da imago* do objeto.
Assim, a vitalidade e a independência da imago, escapam à consciência de quem
as projeta e, como observou Jung: “O
objeto exterior consegue por pé na vida interior e nela participar.
Eis como,
por via inconsciente, um objeto exterior pode exercer uma ação psíquica
imediata sobre o sujeito, visto a sua identidade com a imago (*IMAGO
– Ela consiste numa imagem existente à margem de todas as percepções, e,
contudo, alimentada por estas) o ter de certo
modo introduzido no próprio seio das rodagens do organismo psíquica do
indivíduo. Daí, o “poder mágico” que um objeto pode conter em relação a certos
indivíduos”.
Uma frase que estava na Exposição 500 anos de Brasil, na Oca relata bem essa idéia, dizia o seguinte:
"São os objetos mais poderosos que mais encarnam o princípio transformador. Não só se auto-transformam nos seres e forças invisíveis que tornam presentes, como também TRANSFORMAM OS HUMANOS QUE OS USAM. Ou então, OBJETOS XAMÂNICOS e os para uso de alucinógenos, estabelecem uma relação direta com forças e seres outros.
É uma ARTE QUE SERVE MAIS PARA VER DO QUE PARA SER VISTA! Frequentemente, quanto mais poderosos são os objetos, mais condicionado é o olhar. Eem alguns casos, sua VISÃO é permitida só a algumas pessoas e excluída a todas as outras."
A filosofia platônica baseia-se no
fato de que existe um belo em si e por si, um Bom, um Grande. A partir disso,
defende a existência de uma alma imortal, e formula a noção de idéia como essência existente em
si – independente das coisas e do intelecto humano. O que é belo, é belo porque
existe um Belo pleno que, explica todos os casos e graus de beleza.
A busca de uma condição
incondicionada para o conhecimento, o encontro com o absoluto fundamento da
verdade, é para Platão não o ponto de partida, mas a meta a ser alcançada.
Todavia só se chega aí depois de atravessar todo o campo do possível; o
absoluto, o não hipotético, habita além das últimas hipóteses.
Platão caracteriza as causas
inteligíveis dos objetos físicos chamando-as de idéias ou formas,
estas seriam incorpóreas e invisíveis. Seriam reais, eternas e sempre idênticas
a si mesmas, escapando à corrosão do tempo, que torna perecíveis os objetos
físicos. Merecem, por isso mesmo, a qualidade de “divinas”.
Perfeitas e imutáveis, as idéias
constituem os modelos e paradigmas dos quais as coisas materiais seriam apenas
cópias imperfeitas e transitórias; seriam tipos ideais a transcender o plano
mutável dos objetos físicos.
Platão expõe a doutrina de que o
intelecto pode aprender as idéias porque também ele é, como elas, incorpóreas.
A alma humana, antes do nascimento – antes de prender-se ao corpo – teria
contemplado o cortejo dos deuses. Encarnada, perde a possibilidade de contato
direto com os arquétipos incorpóreos, mas diante de suas cópias (objetos
sensíveis) pode ir gradativamente recuperando o conhecimento das idéias. Conhecer
seria então lembrar, reconhecer. A hipótese da reminiscência vem, assim,
sustentar a hipótese da existência do mundo das formas.
A doutrina platônica da imitação (mímesis)
adquire caráter metafísico, decorrência do “distanciamento” entre o plano
sensível e o inteligível. Os objetos físicos – múltiplos, concretos e
perecíveis – aparecem como cópias imperfeitas dos arquétipos ideais,
incorpóreos e perenes; o mundo sensível seria uma imitação do mundo
inteligível, pois todo o Universo, seria resultado da ação de um divino
artesão, que teria dado forma, pelo menos até certo ponto, a uma matéria-prima
tomando por modelo as idéias eternas. A arte divina teria produzido as obras da
Natureza e também as imagens dessas obras (como o reflexo do fogo numa parede).
O processo do conhecimento
representa a progressiva passagem das sombras e imagens turvas ao luminoso
universo das idéias. No cume do mundo das idéias, a superessência do Bem daria
sustentação a todo o edifício das formas puras e incorpóreas.
PLATÃO E A ALEGORIA DA CAVERNA:
Através desta alegoria, Platão
dramatiza a ascensão do conhecimento. Descreve um prisioneiro que contempla, no
fundo de uma caverna, os reflexos de simulacros que – sem que ele possa ver –
são transportados à frente de um fogo artificial. Como sempre viu essas
projeções, toma-as por realidade e permanece iludido. A situação desmonta-se e
inverte-se desde que o prisioneiro se liberta: reconhece o engano em que
permanecera, descobre a “encenação” que até então o enganara e, depois de
percorrer a rampa que conduz à saída da caverna, pode lá fora começar a
contemplar a verdadeira realidade. Aos poucos, ele, que fora habituado à
sombra, vai podendo olhar o mundo real: primeiro através de reflexos – como o
do céu estrelado refletido na superfície das águas tranqüilas -, até finalmente
ter condições para olhar diretamente o Sol, fonte de toda luz e de toda
realidade.
Demonstra, que é muito tênue a
fronteira entre o mundo visível e o mundo inteligível; e que a maioria das
formas encontradas em nossa vida cotidiana apenas imitam a vida. Por isso, os
objetos aqui, ganharão características inusitadas e inesperadas.
O despertar de uma consciência
adormecida, a libertação de um ponto de vista o qual fomos condicionados no
decorrer de nossas vidas, Voltaire é que estava certo quando dizia que: “A alma
é um espírito puro, que recebeu no ventre da mãe todas as idéias metafísicas, e
que, ao sair de lá, é obrigada a ir para a escola e aprender de novo tudo o que
tão bem sabia e que não mais saberá”.