PENSAMENTO
SISTEMICO
O pensamento sistêmico é uma forma de abordagem da realidade que surgiu no século XX, em contraposição ao pensamento "reducionista-mecanicista" herdado dos filósofos da Revolução Científica do século XVII, como Descartes, Bacon e Newton. O pensamento sistêmico não nega a racionalidade científica, mas acredita que ela não oferece parâmetros suficientes para o desenvolvimento humano, e por isso deve ser desenvolvida conjuntamente com a subjetividade das artes e das diversas tradições espirituais. É visto como componente do paradigma emergente, que tem como representantes cientistas, pesquisadores, filósofos e intelectuais de vários campos. Por definição, aliás, o pensamento sistêmico inclui a interdisciplinaridade. O pressuposto da simplicidade.
1. O pressuposto da simplicidade
- a crença
em que, separando-se o mundo complexo em partes, encontram-se elementos
simples, em que é preciso separar as partes para entender o todo, ou seja, o
pressuposto de que "o microscópico é simples". Daí decorrem, entre
outras coisas, a atitude de análise e a busca de relações causais lineares.
O pressuposto da simplicidade tira o
objeto de estudo dos seus contextos, prejudicando a compreensão das relações
entre o objeto e o todo. Esse paradigma também leva à separação dos fenômenos:
os físicos
dos biológicos,
estes dos psicológicos, dos culturais,
etc., numa atitude de atomização científica. Faz parte dessa perspectiva também
a atitude ou-ou, que, de acordo com a lógica,
classifica os objetos, não permitindo que um mesmo objeto pertença a duas categorias
diferentes. Além disso, esse pressuposto provoca a compartimentalização do
saber, fragmentando o conhecimento em diferentes disciplinas científicas...
Dessa forma criam-se os especialistas, aqueles que tem um acesso privilegiado
ao conhecimento, estabelecendo-se uma hierarquia
do saber.
O
pressuposto da estabilidade
2. O pressuposto da estabilidade
- a crença de que o mundo é estável, ou seja, em que o "mundo já é".
Ligados a esse pressuposto estão a crença na determinação - com a consequente
previsibilidade dos fenômenos - e a crença na reversibilidade - com a
consequente controlabilidade dos fenômenos.
O pressuposto da estabilidade leva o
cientista a estudar os fenômenos em laboratório, onde pode variar os fatores um
de cada vez, exercendo controle sobre as outras variáveis. Assim, ele provoca a
natureza para que explicite, sem ambiguidade, as leis a que está submetida,
confirmando ou não suas hipóteses. Ao levar o fenômeno para laboratório,
excluindo o contexto e a complexidade, focalizando apenas o fenômeno que estava
acontecendo, ele exclui a sua história.
A idéia de "leis da
natureza" é a mais fundamental da ciência moderna e tem uma conotação
legalista, como se a natureza fosse obrigada a seguir
leis... Possivelmente isso está ligado a idéias religiosas que concebem
um legislador onipotente. Será que isso não seria uma tentativa de equiparar o
conhecimento humano ao divino?
Dessa forma, principalmente a
física concebe o mundo "que já é", e não em
processo de ser, recorrendo a sistemas em estado de equilíbrio para
estudo. Também por isso a física quântica quebrou velhos paradigmas...
Faz parte desse paradigma o
pressuposto da previsibilidade: o que não é previsto com segurança
é associado a um conhecimento imperfeito, o que leva a uma redução ainda maior
do conhecimento por meio do pressuposto da simplicidade. Por conseguinte, a
instabilidade de um sistema é visto como um desvio a corrigir. A idéia da
controlabilidade dos fenômenos leva a uma interação do especialista na forma de
uma interação instrutiva: a crença de que o comportamento do sistema será
determinado pelas instruções que ele receber do ambiente e em que, portanto,
poderá ser controlado e previsível.
O pressuposto da intersubjetividade reconhece que não existe uma realidade independente de um observador e que o conhecimento científico é uma construção social, em espaços consensuais, por diferentes sujeitos/observadores. Então o cientista trabalha com múltiplas versões da realidade, em diferentes domínios linguísticos de explicações. Os tipos psicológicos junguianos são o que há de mais inovador nesse sentido, tendo inclusive reconhecimento científico tradicional na detecção dos tipos de personalidade
pressuposto da objetividade
3. O pressuposto da objetividade
- a crença em que "é possível conhecer objetivamente o mundo tal como ele
é na realidade" e a exigência da objetividade como critério de
cientificidade. Daí decorrem os esforços para colocar entre parênteses a
subjetividade do cientista, para atingir o universo, ou versão única do conhecimento.
No pressuposto da objetividade o cientista
posiciona-se "fora da natureza", em posição privilegiada, com uma
visão abrangente, procurando discriminar o objetivo do ilusório (suas próprias
opiniões ou subjetividade). Daí advém a crença no realismo do universo:
o mundo e o que nele acontece é real e existe independente de quem o descreve. Com isso
obtemos várias representações da realidade, que ajudaria a descobri-la. E o
critério de certeza advém daquelas observações conjuntas e reproduzíveis, onde,
coincidindo os registros de observações independentes, mais confiáveis e
objetivas são as afirmações. A estatística encontra aí um bom campo de atuação.
O relatório impessoal e as
normas de trabalho científico orientam uma linguagem impessoal, "como se a
caneta fosse um instrumento para a manifestação de uma verdade anônima"...
Na verdade, a linguagem impessoal visa a "mascarar" a linguagem de
forma a dar uma impressão de ausência de um sujeito, de um pesquisador, onde
uma afirmação pode tomar a forma impessoal para mascarar uma opinião pessoal...
Resumindo: a ciência
tradicional procura simplificar o universo (dimensão da simplicidade)
para conhecê-lo ou saber como funciona (dimensão da estabilidade),
tal como ele é na realidade (dimensão da objetividade).
Isso levou a uma dificuldade
tremenda em três áreas científicas, onde podemos classificar, de acordo com
Vasconcellos (2003), a adoção dos paradigmas científicos em fácil, tranquilo e
difícil:
Ciências
|
Físicas
|
Biológicas
|
Humanas
|
simplicidade
|
tranquilo
|
Difícil
|
difícil
|
estabilidade
|
tranquilo
|
especialmente
difícil
|
difícil
|
objetividade
|
tranquilo
|
Tranqüilo
|
especialmente
difícil
|
O pensamento sistêmico não
nega o paradigma científico. Pelo contrário: ele o abarca, colocando-o em
confronto com os paradigmas opostos e propondo uma ampliação dos paradigmas
existentes.
O Pensamento
sistêmico e a psicologia analítica de Carl Gustav Jung
Muitas críticas à teoria
junguiana coincidem com a dificuldade em se aceitar a psicologia
como ciência devido aos pressupostos apresentados. O pensamento sistêmico
propõe, em contraposição, os paradigmas da complexidade, da instabilidade e da
intersubjetividade, que se integram incrivelmente com a psicologia analítica.
O pressuposto da complexidade reconhece
que a simplificação obscurece as inter-relações dos fenômenos do universo e de
que é imprescindível ver e lidar com a complexidade do mundo em todos os seus
níveis. Um exemplo de uma descrição baseada nesse pressuposto é a Sincronicidade
que prevê outras relações, que não são causais, para os eventos do universo.
Além disso, a psicologia analítica lida de modo sistêmico com a psique, daí seu
homônimo: psicologia complexa, ou profunda.
O pressuposto da instabilidade reconhece
que o mundo está em processo de tornar-se, advindo daí a consideração da
indeterminação, com a consequente imprevisibilidade, irreversibilidade e
incontrolabilidade dos fenômenos. A abordagem orgânica, a homeostase psíquica,
e a noção de inconsciente (o que inclui a freudiana), com os seus componentes
arquetípicos e complexos são exemplos de abordagem sistêmica da psicologia
analítica.
O pressuposto da intersubjetividade reconhece que não existe uma realidade independente de um observador e que o conhecimento científico é uma construção social, em espaços consensuais, por diferentes sujeitos/observadores. Então o cientista trabalha com múltiplas versões da realidade, em diferentes domínios linguísticos de explicações. Os tipos psicológicos junguianos são o que há de mais inovador nesse sentido, tendo inclusive reconhecimento científico tradicional na detecção dos tipos de personalidade